sábado, 17 de setembro de 2011

Portinari no MAM: última chance!

Amanhã (domingo, 18/9) é o último dia da exposição "No Ateliê de Portinari: 1920-45", na Grande Sala do MAM. Consegui visitá-la com toda a tranquilidade na manhã do domingo passado, em que o tempo nublado havia atraído menos gente para o parque do que de costume. Sorte minha, que pude apreciar com calma meu Portinari!

A exposição apresenta cerca de cem obras do artista, reunidas sob a curadoria de uma grande especialista: Annateresa Fabris, professora titular da ECA-USP que estuda a produção de Portinari (1903-1962) há mais de trinta anos. Segundo Annateresa, a trajetória de Portinari foi marcada pela ambiguidade por apresentar uma concepção ao mesmo tempo oficial e moderna da arte. Portinari teve uma formação acadêmica e sabia desenhar, mas deformava voluntariamente suas figuras quando este recurso prestava-se a uma ênfase da expressividade. Como bem explicou a curadora, existem "autores que o consideram um clássico que se veste de moderno. Outros, ao contrário, veem nele um artista moderno, apesar da formação acadêmica e do apego a uma concepção realista de pintura."

Portinari - 'As moças de Arcozelo' (1940) - óleo s/ tela

O fato é que a exposição, dividida em cinco módulos, nos transmite uma boa ideia da diversidade de técnicas e plataformas utilizadas pelo artista, incluindo retratos, cenas brasileiras, maquetes para seus famosos painéis de azulejos típicos da arquitetura modernista e também os estudos preparatórios para os painéis dos "Ciclos Econômicos". Estes últimos, aliás, despertaram minha atenção por uma razão especial. Embora os textos produzidos pelo museu sobre a exposição não façam menção a respeito, não pude deixar de notar uma semelhança de caráter entre os trabalhadores retratados por Portinari e as camponesas pintadas pelo francês Jean-François Millet (1814-75) na obra "As Respigadeiras" (1857). Tanto num caso quanto no outro os trabalhadores são retratados como pessoas simples, porém de compleição sólida e robusta, desempenhando suas tarefas com toda a calma e a dignidade presente naquela classe de trabalhadores braçais caracterizada por homens e mulheres que cumprem de bom grado seu dever e seu destino. Compare as imagens abaixo e veja a semelhança entre os dois mestres!

Portinari - 'Garimpeiros' (1938) - têmpera s/ madeira 

Millet - 'As Respigadeiras' (1857) - óleo s/ tela

A imagem desses trabalhadores, contudo, é totalmente oposta ao tipo de representação humana pela qual Portinari é mais conhecido: figuras esquálidas de retirantes, crianças miseráveis e moribundas e outros párias sociais que chocam o espectador pela contundência de seu sofrimento expressionista.

Portinari - 'Criança Morta', 1944 - óleo s/ tela

Se você ainda não viu essa exposição de Portinari, aproveite que amanhã será um dia de sol (segundo as previsões meteorológicas!), corra até o MAM e confira você mesmo a diversidade da obra do artista. Lembrando que o MAM está no Parque do Ibirapuera, na Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, portão 3. Aos domingos a entrada é gratuita e o museu abre das 10h às 17h30.

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