segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

'Os Descendentes'. Com açúcar, dor e afeto.

Um advogado bonitão de meia idade emocionalmente distante da família. Uma esposa no hospital às portas da morte. Duas filhas jovens e problemáticas. Uma traição recém-descoberta. Um pedaço de terra de família que o advogado bonitão precisa – mas não quer – vender. O cenário? Havaí. Pronto. Está formada a base da trama do filme ‘Os Descendentes’, dirigido por Alexander Payne, estrelado por George Clooney (no papel do advogado Matt King), Shailene Woodley (Alexandra, sua filha de 17 anos) e Amara Miller (a filha de 10 anos).

Tudo começa quando Matt King recebe a notícia de que o coma de sua esposa, hospitalizada devido à queda de uma lancha, é irreversível e que os aparelhos terão de ser desligados. Arrasado, o advogado Matt vê-se na incumbência de se reaproximar das filhas jovens, um tanto desorientadas e ressentidas que, até então, pouco recebiam da atenção dos pais. Matt se vê, de repente, com a dolorosa tarefa de preparar as meninas para a morte iminente da mãe. De uma forma um tanto desajeitada, mas não desprovida de afeto, tenta fazer isso à sua maneira, até receber a notícia, dos lábios da filha mais velha, de que sua mulher o traía. Completamente devastado, Matt não descansa até descobrir quem era o amante da mulher, até chegar a um bem-sucedido corretor de imóveis da região. Nessa descoberta, conta com a solidariedade e a cumplicidade da filha mais velha que, no decorrer da trama, vai criando uma empatia crescente com relação ao drama do pai.


Ao mesmo tempo em que tudo isso acontece, Matt vê-se às voltas com a negociação do espólio da família, um dos últimos pedaços de terra ainda intocados na ilha e que vale algumas centenas de milhões de dólares. Rodeado por um verdadeiro exército de primos ávidos para abocanhar seu quinhão desse montante, Matt, como executor do espólio – e, portanto, decisor da venda, sente seu coração despedaçar com a possibilidade de se desfazer desse pedaço de paraíso à beira-mar que, mais do que um valor monetário, possui um valor afetivo inestimável. Dói-lhe saber que essas terras, herança de seus ancestrais – um reverendo branco e uma princesa nativa – podem se transformar em mais um resort para turistas.

'Matt' contempla, ao lado das filhas, o paraíso intocado do qual não quer se desfazer.

Não vou revelar o final do filme, é claro, mas posso contar que vale a pena assistir.
Não há como não sentir simpatia por aquele pobre homem que adquire uma consciência dolorosa de seus erros do passado, sobretudo sua negligência no trato com as filhas e com a esposa que está deixando este mundo. Uma das coisas que mais doem, para Matt, é o fato de que nunca mais poderá dizer a essa esposa aquilo que não disse, recuperar o tempo perdido e até mesmo descarregar, sobre ela, toda a sua mágoa e dor pela traição. Restam-lhe, no entanto, as filhas. E é com relação a estas que acompanhamos o olhar terno de Matt e suas tentativas de pai desajeitado de recobrar um pouco daquilo que, no passado, pode ter tido algumas centelhas do que chamava de 'felicidade'.

Concorrendo a vários Oscar, 'Os Descendentes' está passando em vários cinemas, entre os quais: Bristol 3, Frei Caneca Unibanco 7, Pátio Higienópolis 3 e Reserva Cultural 3 e 4.  Pode assistir que vale a pena!

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