quinta-feira, 29 de março de 2012

'Os Boêmios de Adoniran'. Samba da melhor qualidade por "dé real"!

Se São Paulo perdeu a alcunha de 'Túmulo do Samba', Adoniran Barbosa (1910-1982) deve ter tido uma boa parcela de contribuição para isso. Pois agora as canções do velho mestre da boemia paulistana podem ser revisitadas no espetáculo Os Boêmios de Adoniran, que reestreou em São Paulo, no Teatro João Caetano, encenado pela Cia. de Teatro Interiorando.

Gostei da ilustração!

O ator Marcelo Franzolin ficou a cara do Adoniran!
Foto: Patricia Voss

Aliás, eu nem acreditei que assisti a um ótimo espetáculo por módicos R$ 5,00! Sim, a inteira custa R$ 10,00, o que já é barato, e como tenho carteirinha de estudante, paguei a metade! Tudo bem que o Teatro João Caetano, que pertence à Prefeitura, precisa urgentemente de uma reforma, mas o custo-benefício do musical foi excelente.

Foto: Patricia Voss

Com texto de Juliana Lucilha e direção de Milton Machado, a peça narra a história fictícia do personagem 'João' (o verdadeiro nome de Adoniran) que, após receber a carta de um amigo, retorna após trinta anos à rua Aurora, onde morou na juventude. Lá encontra o velho turco Jacó, outro morador da rua, e os dois começam a reviver os "causos" do passado, em que a vida simples da boemia de Sampa era embalada pelas músicas do velho sambista.

O turco 'Jacó' e 'João' revivendo os "causos" - Foto: Patricia Voss

O cenário de boteco estava sempre presente - a mim, lembrou as cidades do interior e também as reuniões dos amigos de meu avô, quando todos se sentavam para tocar violão, bandolim, cavaquinho... Aliás, o irmão dele era particularmente talentoso. Tocava tudo isso muito bem, foi úm músico de primeiríssima e, ainda por cima, autodidata! O homem realmente tinha um ouvido fabuloso. Saudades do vovô, do tio e daquela turma!!! Sniff... 

O ambiente de boteco foi recriado com toda a singeleza. Deu saudades do vovô! - Foto: Patricia Voss

E assim, catorze canções de Adoniran, incluindo clássicos como Trem das Onze, Saudosa Maloca, Iracema e Tiro ao Álvaro, são levadas ao palco por dez atores/dançarinos e cinco ótimos músicos. Os personagens das músicas, como 'Iracema' e 'Mato Grosso', ganham vida nas encenações, encadeando uma canção na outra.

Foto: Patricia Voss

Esse ator samba muito! Não sei o nome dele... - Foto: Patricia Voss

Vale ressaltar que o musical venceu o 'Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro 2010' e foi reconhecido como o Melhor Espetáculo do 'Festival de Teatro de São Paulo 2011'. O elenco é formado por Amanda Carvalho, Eduardo Osório, Elvira Cardeal, Clara Nascimento, Juliana Lucilha, Jorge Derosa, Marcelo Franzolin, Tálita Yabusaki, Thiago Henrique e Thiago Toledo. Os músicos são: Anderson Sono, Léo Ferreira, Marcelo Brandão, Paulinho Farias e Vitor Ramos.

Foto: Patricia Voss

Para quem não conhece os geniais sambas de Adoniran, eis uma ótima oportunidade para conhecer. E quem já conhece, também não pode perder a chance de relembrar as canções do mestre num belo espetáculo. Mas é bom correr, porque a peça fica em cartaz só até o próximo fim de semana!

OS BOÊMIOS DE ADONIRAN
Teatro João Caetano – Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino – tel.: (11) 5573-3774. Sexta e sábado às 21h, domingo às 19h. Ingresso: R$ 10,00 e R$ 5,00. Duração: 60 minutos. Até 1o. de abril.

terça-feira, 27 de março de 2012

Rosa Bistro & Botequim desabrocha nos Jardins.

ATUALIZAÇÃO EM 23/11/15: O ROSA BISTRO & BOTEQUIM ENCERROU SUAS ATIVIDADES.

Pois é, os "Jardins" ganharam uma "rosa"! É o Rosa Bistro & Botequim, na rua Melo Alves, que fui conhecer noite dessas. Logo ao chegar, já tive uma ótima impressão. Para começar, a casa é extremamente arejada e alto-astral. Segundo ouvi, parece que foi construída na década de 20. Tem mesas na calçada, na parte da frente e também num agradável terraço elevado. As mesas da frente ficam a céu aberto, mas há um teto retrátil para os dias mais frios e/ou chuvosos.

A casa agrada de imediato - Foto: Simone Catto

Atrás do mezanino, fica o aconchegante salão interno.

Foto: Simone Catto
 
Foto: Simone Catto

A iluminação, em tons alaranjados, é daquelas que fazem com que a gente se sinta "abraçada" – portanto, perfeita para as "piores" intenções - no melhor dos sentidos! (rs).

A iluminação contribui para a sensação de aconchego - Foto: Simone Catto
 
Sentamos na mesa em primeiro plano, com vista dupla: para o interior e para o exterior!
Foto: Simone Catto

As rosas que dão nome à casa estão por toda parte: no papel de parede, nas luminárias e até em detalhes da louça. Um charme!

Repare no papel de parede e na luminária de metal: rosas, rosas, rosas! 
Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Até os copos de suco tinham rosinhas cor-de-rosa: fofos!
Foto: Simone Catto

Quando cheguei, por volta das 20h30 de um dia de semana, ainda havia algumas mesas à escolha e consegui me instalar no terraço. Pouco tempo depois, o local já estava tomado por casais, grupos de amigos e gente descolada de todos os gêneros.

O cardápio tem de tudo um pouco: porções para quem deseja apenas beber e petiscar, pratos elaborados e também alguns sanduíches e sobremesas. Primeiro pedi uma caipirinha de cachaça Seleta acompanhada da porção de "Burguinhos": oito deliciosos "micro hamburguinhos" que mais parecem canapés de tão delicados e bonitinhos.

A caipirinha estava "no ponto" - Foto: Simone Catto

Os 'Burguinhos' disfarçados de canapés: deliciosos! - Foto: Simone Catto

Muita conversa e um pouco de fome depois, fizemos um pedido onde reinaram, absolutos, o "rei" e a "rainha": Croque Monsieur e Croque Madame, ambos acompanhados de salada. Para quem não conhece, o Croque Monsieur é um tradicional misto quente francês com queijo gratinado. E o Croque Madame é um Croque Monsieur com ovo frito por cima. Moral da história: quem come "madame" come melhor! (rs).

O 'Croque Monsieur': bem-feito e saboroso - Foto: Simone Catto

O 'Croque Madame': um 'Croque Monsieur' mais "vitaminado"- Foto: Simone Catto

Vale ressaltar que Rita Sandrin, proprietária do lugar, circulava entre as mesas o tempo todo para checar se o atendimento e os pratos estavam a contento. Em determinado momento, ao solicitar que o volume do som ambiente fosse diminuído, fui prontamente atendida, mostrando que a casa realmente se preocupa com o bem-estar dos clientes.

E ao final, depois de devorar nossos "croques", quem poderia resistir a esse brigadeiro de colher servido numa graciosa panelinha de boneca? Nhammm... delícia! 

O brigadeiro servido na panelinha de boneca: sabor de gente grande!! - Foto: Simone Catto

E não para por aí: extremamente gentil e atenciosa, a proprietária Rita ainda nos presenteou com taças de espumante ao final da refeição, ao saber que havia uma aniversariante à mesa. Bingo! Conquistou uma cliente que, sem dúvida, retornará para experimentar os outros quitutes deste charmoso bar-restaurante com nome de flor.

Por tudo isso, se além de comer bem você faz questão de um ambiente cool e frequentado por gente interessante e descolada, o Rosa Bistro & Botequim está recomendadíssimo! Anote o endereço: Rua Melo Alves, 82 – Cerqueira César. Tel.: 3297-8249.

domingo, 25 de março de 2012

'Um Violinista no Telhado', no teatro Alfa. Uma celebração à tradição judaica.

E não é que José Mayer canta? Confesso que me surpreendi. Eu, que estou acostumada a ver o ator na telinha, desempenhando invariavelmente o papel de "macho garanhão" (com o perdão da vulgaridade do termo) nas novelas da Globo, fiquei surpresa com a afinação e o timbre de sua voz no musical Um Violinista no Telhado, versão brasileira da peça de Jerry Bock e Sheldon Harnick encenada na Broadway em 1964, com texto de Joseph Stein. Pois José Mayer canta, dança e interpreta, com elegância e humor na medida certa, o personagem 'Tevye', um leiteiro judeu pobre e bonachão que mora com a mulher e as cinco filhas na aldeia fictícia de Anatevka, na Rússia czarista. O ano é 1905.

Baseada em contos do escritor Sholom Aleichem, a peça adaptada por Claudio Botelho e dirigida por Charles Möeller retrata a luta do leiteiro para manter as tradições judaicas num mundo em que tudo está mudando. Na família judaica tradicional, os casamentos eram arranjados, a esposa se ocupava dos afazeres do lar e os filhos obedeciam aos pais. Só que as filhas de Tevye querem se casar por amor. E para piorar a situação, os judeus começam a ser oprimidos pelo governo russo.

Todos os conflitos da trama são retratados com pitadas de humor, leveza e empolgantes números de dança. Algumas canções são realmente bonitas, outras nem tanto. Eu, particularmente, me senti tocada pelas danças camponesas – são realmente contagiantes, dão vontade de sair dançando do teatro.
 
Um dos belíssimos números de dança, com José Mayer em primeiro plano.

Logo ao chegar, percebi que a colônia judaica havia "baixado" em peso no local. Era um tal de um cumprimentar o outro que aquilo mais parecia reunião de condomínio da Av. Higienópolis. O fato é que o espetáculo tem tudo para agradar o público, seja ele formado por judeus ou não-judeus (o meu caso). Aliás, embora eu não seja exatamente aficionada por musicais, devo dizer que nutro a maior admiração por seus artistas, que estão, em minha opinião, entre os mais completos que existem: eles cantam, dançam, atuam e alguns ainda possuem outras habilidades.

O leiteiro 'Tevye' e suas filhas

José Mayer e Soraya Ravenle, que interpreta 'Golda', a mulher do leiteiro.

A única coisa que me desagradou - e que, diga-se de passagem, constitui um dos motivos que me afastam dos musicais, é a duração do espetáculo, longa demais. Se Um Violinista no Telhado tivesse meia hora a menos, estaria de bom tamanho. De qualquer modo, a peça vale a pena pelo texto, pelas atuações, por algumas músicas e pelas belas danças.


Além de José Mayer no papel do leiteiro Tevye, o elenco conta com Soraya Ravenle (Golda, mulher de Tevye), Rachel Renhack, Malu Rodrigues, Karina Mathias, Julia Fajardo, André Loddi, Nicolau Lama, Ada Chaseliov, Sylvio Zilber, Alessandra Verney, Germano Pereira, Germana Guilherme e outros.

O ótimo elenco, composto por mais de 40 artistas.

A peça fica até 15 de julho no Teatro Alfa. Mas saia bem cedo de casa porque o teatro tem localização péssima, no fim do mundo: R. Bento Branco De Andrade Filho, 722, perto do Hotel Transamérica, com acesso por um longo trecho da Marginal Pinheiros. Tel.: (11) 5693-4000.

terça-feira, 20 de março de 2012

Tratterie Holandesa, em Holambra. Sabor, cenário e atendimento nota mil.

Junte uma belíssima paisagem, boa comida, a companhia de gente querida... e pronto! Eis o cenário de um fim de semana perfeito. Ao me hospedar na casa de uma amiga no interior, fui gentilmente convidada a almoçar na Tratterie Holandesa, localizada em Holambra, conhecida como "Cidade das Flores". 

  
Localizada a 120 km de São Paulo, na região de Campinas, Holambra tem apenas 10 mil habitantes e é mesmo uma graça de cidade (aliás, ela só se tornou município em 1992). Ao circular por suas ruas, parece que estamos em outro mundo – ou, melhor dizendo, num mundo desenvolvido. É impressionante a quantidade de árvores, belos jardins e casas graciosas e bem cuidadas. As flores estão por toda parte. O asfalto parece um tapete de tão limpo e plano.


A Tratterie Holandesa está localizada numa dessas vias arborizadas. A mesa onde sentamos fica numa área externa, de onde avistamos belas casas do outro lado da rua. 

Tratterie Holandesa: a deliciosa atmosfera de um almoço ao ar livre - Foto: Simone Catto

A vista de nossa mesa: tudo de bom! - Foto: Simone Catto

As paredes e o teto estão cheio de detalhes decorativos que remetem à Holanda, como pôsteres, bandeiras, os famosos tamanquinhos típicos e outros objetos. 

Foto: Simone Catto

No local reinam a paz e o silêncio. Os garçons são bem treinados, extremamente gentis e atenciosos. Um deles até nos fez uma rosa com o guardanapo!

A obra de arte do garçom - Foto: Simone Catto

O cardápio é farto, com diversas opções de carnes, peixes, aves e também algumas iguarias típicas holandesas. Aliás, todo o cardápio está escrito em holandês, com a tradução em português abaixo do nome de cada prato - um sinal do cuidado de Marcel Bijkerk, proprietário da casa e chef de cozinha graduado na Holanda. 

Os pratos são muito bem feitos e os preços justos. Detalhe: o couvert não é cobrado por pessoa, mas por um valor único. Muito mais razoável!

O couvert incluiu dois tipos de pães, paté de gorgonzola, de pimentão e berinjela temperada - Foto: Simone Catto

Eu optei por um prato que uma das amigas que me acompanhavam recomendou: o Filé de Tilápia com Crosta de Castanha de Caju e Banana, Salada de Pepino, Arroz Branco e Molho Curry (R$ 28,00). Estava muito bom.

O meu prato: tilápia - Foto: Simone Catto

Desta vez, minha amiga preferiu o Filé de Frango com Molho de Páprica, Arroz Branco, Batata Sautée e Brócolis (inacreditáveis R$ 19,25).

O frango também agradou - Foto: Simone Catto 

O outro pedido foi Salmão Grelhado com Molho Bernaise, Batata Sautée, Arroz Típico e Brócolis (R$ 34,00).

O sabor do salmão devia estar tão bom quanto a aparência! - Foto: Simone Catto

Ao final da refeição, pedimos um cafezinho, que veio com um pequeno torrone: mimo simpático!

Foto: Simone Catto

Após o almoço, demos uma passada na Confeitaria e Restaurante Martin Holandesa, também especializada em autênticas delícias daquele país e comandada por uma família que segue a tradição dentro das normas do Echt Bakker da Holanda, o "papado" dos confeiteiros holandeses. Lá comprei um pacote dos deliciosos stroopwafel, um tipo de biscoito fino com recheio doce, original da cidade de Gouda. Os holandeses costumam colocar o stroopwafel em cima da xícara de café ou chá quente, para que o vapor o deixe macio. Delíciaaaaaa!!!!

O stroopwafel holandês: dos deuses!!

A rua Dória Vasconcelos, em foto tirada da porta da Confeitaria Martin Holandesa - Foto: Simone Catto 

Vale ressaltar que os imigrantes holandeses chegaram à região ao final da Segunda Guerra Mundial. Eram lavradores e horticultores católicos que tiveram suas terras devastadas na catástrofe e viram no Brasil uma oportunidade para reconstruírem suas vidas. Com o apoio dos governos holandês e brasileiro, em 1948 adquiriram a Fazenda Ribeirão e se instalaram por lá. Após tentativas frustradas de criar aqui o famoso gado holandês e de cultivar plantações de batatas, os colonos partiram para a avicultura, a produção de frutas cítricas e, finalmente, para o cultivo das plantas e flores que hoje fazem a fama da cidade e a transformaram num dos lugares mais aprazíveis do Brasil.


Graças à cultura holandesa, os indicadores econômicos e sociais em Holambra são de primeiro mundo, com um índice altíssimo de qualidade de vida. Um exemplo: enquanto o recomendável é que as cidades tenham um mínimo de cinco árvores por habitante, Holambra tem em média dezesseis! E não para por aí: o município tem 100% de esgoto tratado, área urbana totalmente pavimentada, índice de escolaridade acima da média nacional e ótimos espaços públicos de lazer, como praças, lagos e parques.


Ah, se os holandeses não tivessem sido expulsos de outras regiões do país... quem sabe as coisas não seriam diferentes???

Por tudo isso, Holambra sempre vale a visita. Se você também gosta de gente civilizada e quiser fazer uma excelente refeição a preços justos num belíssimo cenário, faça um passeio por lá e não deixe de almoçar na Tratterie Holandesa. O endereço é Rua Camélias, 317 – Centro – Holambra. Tels.: (19) 3802-3004 e 91888927 – www.tratterieholandesa.com.br.

A Confeitaria e Restaurante Martin Holandesa fica na Rua Dória Vasconcelos, 15, também no Centro. Tel.: (19) 3802-1295 – www.confeitariamartinholandesa.com.br

Vá e conte o que achou, deixando aqui seu comentário!

Atualização em 11/8/2014:

Ontem, por ocasião do Dia dos Pais, estive novamente na Tratterie Holandesa e optei pelo menu promocional da data, a R$ 55,00 por pessoa, que dava direito a uma deliciosa salada verde com brie e melão, acompanhada de uma cesta de pães caseiros, três opções de prato principal, sobremesa e café. Achei o preço bem simpático, dada a qualidade dos pratos, o atendimento gentil, o capricho nos detalhes e o ambiente delicioso. Novamente minha impressão foi a melhor possível. Havia reservado uma mesa com o próprio chef Marcel e, apesar de ter me atrasado um pouco, a casa teve compreensão com o fato de eu estar indo de São Paulo e, quando cheguei, minha mesa de quatro lugares estava lá à minha espera. E o melhor: o restaurante não tinha aquela superlotação desagradável dos restaurantes de São Paulo em datas especiais. Eis um lugar ao qual pretendo retornar muitas vezes!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Casa Tavares. Um ambiente tão agradável merecia cozinha mais caprichada.

Ao entrar no Tavares, restaurante, café e empório inaugurado há pouco tempo nos Jardins, minha impressão foi a melhor possível. Para começar, a casa é muito bem localizada, na rua da Consolação. À medida que vamos entrando, passamos por vários ambientes descolados, coloridos e aconchegantes, de dimensões variadas, cada um com um pé direito de altura diferente. A decoração, que equilibra o rústico e o contemporâneo, é valorizada por uma iluminação delicada e muito verde.

A fachada é convidativa - Foto: http://www.casatavares.com.br/

Um dos aconchegantes salões da casa - Foto: http://www.casatavares.com.br/

Instalei-me no salão dos fundos, o mais amplo da casa, cheio de detalhes decorativos. Uma adega envidraçada confere ao ambiente um charme extra. O lugar também é bem frequentado, com gente bonita, grupos de amigos e casais cool.

O salão onde fiquei (minha mesa era aquela ao lado do painel colorido à esquerda). 
Foto: http://www.casatavares.com.br/

Do salão onde eu estava, avistava este pequeno anexo - Foto: www.casatavares.com.br  

Para beber, pedi uma margarita. E para petiscar, o pedido foi uma porção de croquetes de berinjela e molho tarantor, seguida de uma porção de bolinhos de arroz. As porções estavam boas, apesar de minúsculas.

Conversa vai, conversa vem e, duas margaritas depois, pedimos o jantar. Eu quis o Picadinho Tavares, pensando em saborear uma deliciosa refeição caseira ao estilo 'comida de boteco'. O prato leva filé mignon, arroz, farofa, quiabo e banana. O quiabo eu já ia dispensar, mesmo, porque nunca gostei da hortaliça. Ao experimentar o "filé mignon", porém, notei algumas "gordurinhas". Questionei o garçom para saber se a carne era filé mignon mesmo, e ele afirmou que sim, alegando que as tais "gordurinhas" eram provavelmente pedacinhos de bacon do tempero. A explicação não me convenceu. Estranhei, também, o fato de a banana ser servida do jeito que veio ao mundo, isto é: apenas fatiada, sem preparo nenhum – nem frita, nem assada e nem como parte de algum molho ou tempero. Enfim, o prato merecia mais capricho e cuidado, não tendo me apetecido em absoluto. 

O meu prato, o 'Picadinho Tavares', deixou muito a desejar - Foto: Simone Catto

A amiga que pediu o nhoque de batatas assadas e espinafre com paillard de frango apreciou bastante sua escolha. Já a outra achou apenas mediano o ravióli de ricota e maçã verde com manteiga de sálvia.

O 'Nhoque de Batatas Assadas e Espinafre com Paillard de Frango' agradou muito à minha amiga - Foto: Simone Catto

Já o 'Ravioli de Ricota com Maçã Verde e Manteiga de Sálvia' foi considerado apenas razoável - Foto: Simone Catto

Ao final das contas, só posso dizer que espero, sinceramente, que o Tavares passe a tratar seus pratos com mais carinho, para que as refeições servidas fiquem à altura de seu belo ambiente, sua proposta e seu público. Uma casa com atmosfera tão agradável realmente merecia uma comida mais caprichada. Fica a dica! O Tavares está na rua da Consolação, 3212. Tel.: 3062-6026 – www.casatavares.com.br/

'A Separação'. Uma teia de dramas morais que nos enreda num filme soberbo.

Tudo começa com um problemaço. A médica Simin (Leia Hatami) tem planos de deixar o Irã com a filha de 11 anos, Termeh (Sarina Farhadi), para oferecer à menina uma vida melhor fora do opressor país natal. Seu marido, o bancário Nader (Peyman Moadi), não quer acompanhá-la porque precisa tomar conta do pai idoso (Ali-Asghar Shahbazi) que sofre de Alzheimer. E é assim, com Simin e Nader diante do juiz que irá consumar o divórcio do casal, que começa o filme A Separação, de Asghar Fahardi.

O casal Simin e Nader diante do juiz, na cena inicial do filme.

Como se esse drama já não fosse grande o bastante, novos problemas surgem ao longo da narrativa e a teia vai ficando cada vez mais intricada. Após o divórcio, Simin volta para a casa dos pais. Nader, que continua em sua residência com a filha, contrata então uma jovem, Razieh (Sareh Bayat), para cuidar da casa e do pai doente. Só que Razieh está grávida e omitiu seu novo emprego do marido Hodjat (Shahab Hosseini) devido às rígidas leis religiosas do Irã, que não permitem a uma mulher determinados tipos de contato com homens. A partir daí, desencadeia-se uma sucessão de acontecimentos que acabam fugindo ao controle de todos e vão deixando a situação cada vez mais complexa. Dilemas morais e humanos se entrecruzam, os personagens conflitam cada vez mais entre si e, para complicar, ninguém deixa de ter razão em seu ponto de vista.

A expressiva Sareh Bayat, que interpreta a empregada Razieh.

Os atores são extremamente expressivos e transmitem, com veracidade, todo o drama pessoal que tortura os espíritos dos personagens. Não por acaso, este ano A Separação ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e o Globo de Ouro da mesma categoria. E no ano passado, ganhou o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Berlim, além do Urso de Prata para Melhor Ator e também para Melhor Atriz.

A menininha Kimia Hosseini também dá um show de interpretação como Somayeh, filha de Razieh.

Sem propor soluções, o filme deixa no ar mais perguntas do que respostas, e não há como sair do cinema sem ponderar e refletir sobre o drama e os argumentos de cada personagem. Em nenhum momento é feito algum julgamento de valor, e cabe ao espectador tecer suas próprias conclusões – se é que vai conseguir chegar a uma!

Enfim, 'A Separação' é o tipo de filme que entretém, intriga e faz pensar. Graaande filme. Atualmente, ele está em cartaz apenas no Espaço Unibanco 2, no Reserva Cultural 2 e no Cidade Jardim 7. Assista correndo!