domingo, 4 de novembro de 2012

O que vi na PARTE, a feira de arte contemporânea que aproxima o público dos novos artistas.

Há muita gente, por aí, que aprecia arte e eventualmente até gostaria de adquirir alguma obra, mas se sente intimidada em entrar numa galeria para solicitar informações por ter a ideia pré-concebida de que uma obra de arte é sempre cara e inacessível. Só que há um detalhe importante do qual, creio, pouca gente se dá conta: "valor" e "preço" são coisas beeem diferentes. Isso mesmo. Nem tudo que vale custa muito, da mesma forma que nem tudo que custa muito vale tanto assim. Vou explicar. Da mesma forma como você pode se deparar com uma obra de arte que não te transmita absolutamente nada, mesmo que o preço da etiqueta corresponda a cinco anos de seu salário, pode ocorrer de você A-D-O-R-A-R uma obra pensando que ela é caríssima e descobrir que ela cabe no seu bolso. Sentiu a diferença entre valor e preço? Pois é. 

Uma boa demonstração do que estou dizendo estava na segunda edição da PARTE, feira de arte contemporânea realizada na segunda quinzena de outubro no subsolo do Paço das Artes, na USP. A ideia dessa feira, que reuniu obras de 42 galerias brasileiras, era oferecer arte de qualidade de artistas ainda em ascensão, por preços que fossem acessíveis. Para mim, foi uma ótima vitrine para saber o que a moçada anda fazendo por aí. Ao conferir as etiquetas, constatei que os preços (ou, se preferir, "investimento") realmente não eram de assustar. Vi obras por menos de mil reais e soube que o custo máximo de uma obra exposta ali não ultrapassava os R$ 18 mil. Os visitantes chegavam, olhavam e, se gostassem de alguma coisa, compravam no ato e já poderiam levar a obra para casa.

Foto: Simone Catto

De cara, logo ao entrar, vi uma parede cheia de telas e obras coloridas. Fui andando e eis que alguém me chama. Quando me virei para olhar, topei com o Allan Szacher, que cursou Comunicação comigo na FAAP há mais de uma década. Papo vai, papo vem, e Allan me contou que é o criador e editor da revista Zupi, publicação dedicada ao design gráfico, além de possuir uma sociedade na QAZgaleria de arte que prioriza a linguagem do grafite, da street art e da ilustração. Assim Allan foi me mostrando as obras e contando um pouco sobre os artistas. Alguns trabalhos eram bem divertidos, outros não me atraíram tanto, mas muitos se destacavam pelo vivo colorido, pela linguagem bem-humorada e pela harmonia da composição, mostrando que tem gente talentosa por aí. Por falar nisso, a bela composição abaixo, de Rodrigo Machado, foi a primeira a atrair meu olhar.

Obra de Rodrigo Machado - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Outro trabalho que teve um resultado esteticamente interessante é a pintura abaixo, sobre skate, de autoria de Gen Duarte.

Obra de Gen Duarte - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Notei que boa parte da galera da QAZ se inspira na linguagem das HQs e muitas obras mostram "criaturas" meio monstros, meio gente, que também lembram muito personagens de desenhos animados.

Obra de Cadu Mendonça - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto 

Obra de Insane - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Obra de Cena 7 - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Outros artistas representados pela QAZ partem claramente para a paródia – é o caso de Ozi que, de certa forma, mesclou a fantasia infantil com a fantasia sexual. Pois se alguém aí nunca imaginou transar com a Fada Sininho, já pode começar a pensar no assunto! (rs)

Obra de Ozi - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto
Ops... saiu com reflexo! (rs)

E o que dizer da Branca de Neve que, cansada de maçãs envenenadas, resolveu provar outra fruta???

Obra de Ozi - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

E já que estamos falando de nossos instintos mais primitivos e ancestrais, as imagens de pinturas rupestres pré-históricas vieram imediatamente à minha cabeça quando topei com as obras de Jaime Prades.

Obras de Jaime Prades - Galeria: QAZ - Foto: Simone Catto

Continuando minha caminhada pela exposição, fui parar no stand da Galeria Papel Assinadoque chamou minha atenção pelas obras de Eduardo Sued – clássicas, elegantes, de extremo bom gosto.

Obras de Eduardo Sued (exceto a de baixo à esquerda, que é de
Leon Ferrari) - Galeria: Papel Assinado - Foto: Simone Catto

À esquerda, vista do stand da Galeria Papel Assinado - Foto: Simone Catto

Mais adiante, gostei muito do vigor e da alegria das obras de Renato Sant'Anna, representado pela galeria carioca Tramas.

Obra de Renato Sant'Anna - Galeria: Tramas - Foto: Simone Catto

Vista do stand da galeria Tramas - Foto: Simone Catto

Havia muitas obras expostas nesta PARTE e devo dizer que a grande maioria não despertou meu interesse. É provável, contudo, que muitos dos trabalhos que me foram indiferentes tenham atraído o olhar de outras pessoas, da mesma forma que o contrário também deve ter ocorrido: obras que considerei interessantes podem não ter despertado nenhuma emoção em outros visitantes. O critério aqui é pessoal, e não pretendo fazer nenhum julgamento de valor. Apenas inseri uma pequena amostra de algumas tendências que vi na feira e que me detiveram ou pela beleza, ou pela composição ou pelo humor. Espero que muitas outras feiras como essa sejam realizadas, para que as pessoas possam conhecer o que está sendo produzido por nossos artistas, educar seu olhar e, a partir daí, perder o medo de adquirir obras de arte. É isso aí!

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