domingo, 27 de janeiro de 2013

'O Homem Feio'. Ótima sátira ao culto da beleza vazia e às pseudocelebridades.

A programação teatral do Sesc normalmente se destaca pela qualidade. Com a peça O Homem Feio, que tive a oportunidade de conferir, não foi diferente. O texto é de um jovem dramaturgo alemão chamado Marius von Mayenburg (nascido em 1972), que trabalha no Schaubühne am Lehniner Platz, um dos teatros mais importantes de Berlim, e é "uma das estrelas ascendentes da dramaturgia europeia", segundo o folheto do espetáculo. Suas peças têm sido muito prestigiadas na Europa e estão ganhando cada vez mais terreno também em outras partes do mundo. Já em 2007, a encenação de O Homem Feio causou sensação no teatro Royal Court de Londres, especializado em nova dramaturgia.

E como essa montagem veio parar aqui? Tudo começou quando o diretor André Pink, que residia em Londres desde 1996, recebeu, em 2011, um convite para dirigir o trabalho de uma turma da EAD - Escola de Arte Dramática da USP. O Homem Feio foi um dos textos escolhidos pelo grupo.

O espetáculo conta a história de Lette, um homem extremamente feio que vive bem com a esposa e não se dá conta de sua feiura. Até que, um dia, acaba sendo preterido no trabalho por causa de sua aparência: seu assistente é convidado a apresentar, num importante congresso, um trabalho que ele havia desenvolvido com sucesso. Inconformado, Lette resolve fazer uma cirurgia plástica. E fica tão bonito, mas tão bonito, que sua esposa e seus colegas nem o reconhecem mais. Lette não só vai para o congresso apresentar seu trabalho como passa a apresentar também os trabalhos dos colegas. Os convites não param, e as mulheres fazem até fila para falar com ele ao final de cada apresentação. Lette vira uma celebridade e sua personalidade também se transforma: ele fica cada vez mais arrogante, narcisista e ambicioso. Creio que qualquer semelhança com "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde, não seja mera coincidência!...

Só que ocorre uma reviravolta. Devido ao sucesso da cirurgia realizada em Lette, o cirurgião plástico resolve aplicar a mesma técnica em outros pacientes, gerando vários "clones" seus. E a partir do momento em que deixa de ser "único", ou "novidade", Lette passa a ser novamente preterido e cada vez mais relegado a segundo plano, entrando em decadência. O homem começa então a se dar conta de que nos tempos de "feiura" era mais feliz e procura novamente o cirurgião plástico, desta vez para "reverter" a cirurgia e recobrar seu antigo rosto. Mas aí já era tarde demais.

Alex Houf e Bruna Miglioranza, que interpretam Lette e sua bela esposa.

Com ótimos atores e tiradas irônicas e divertidas, a peça critica determinados valores da sociedade contemporânea, como o culto à beleza desprovida de significado e a fabricação em série de subcelebridades. A meu ver, o surgimento dos "clones" de Lette pode ser interpretado como uma crítica às cirurgias plásticas que pasteurizam o resultado e deixam todos os pacientes com a mesma "cara". E sobretudo, O Homem Feio mostra como cada vez mais as pessoas perdem sua essência, afastando-se de valores que possam conduzir à verdadeira felicidade.

Ficha técnica parcial: 
  
Duração: 80 minutos
Texto: Marius von Mayenburg
Direção e Cenografia: André Pink
Assistente de Direção: Otavio Oscar
Elenco: Alex Houf, Bruna Miglioranza, Camilo Chaden, Danilo Gambini, Fernanda Hartmann e Tiago Real

Se você gosta de teatro, vale a pena assistir! O HOMEM FEIO está em cartaz no Sesc Consolação – Espaço Beta – 3º andar, R. Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque - Centro. Tel.: 3234-3000. Ingresso: de 2,50 a R$ 10. Mas fique atento(a), porque a peça é apresentada apenas às segundas e terças-feiras (às 21h) e ficará em cartaz somente até 5/2. Ou seja: haverá só mais 4 apresentações.

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