domingo, 11 de agosto de 2013

Minha manhã com os barões do café (parte 1).

Após falar um pouco sobre as estações da Luz e Júlio Prestes, no post anterior, chegou a hora de conhecermos as joias arquitetônicas que foram o real motivo do tour 'São Paulo no tempo dos barões do café', que fiz com a equipe do site São Paulo Antiga: os palacetes dos Campos Elíseos!

Pois é. Ao contrário do que muitos pensam, foi o bairro dos Campos Elíseos, e não a Av. Paulista, que abrigou as residências dos ricos barões do café, que construíram por lá magníficos casarões no final do século XIX. Só para recapitular o post anterior, a região dos Campos Elíseos foi o primeiro bairro de elite planejado na cidade de São Paulo.

Detalhe do Palácio dos Campos Elíseos, antiga residência de Elias Pacheco Chaves,
o mais rico dos barões do café, construída entre 1896-1899 - Foto: Simone Catto

Ocorre que, após a decadência do café, no início do século XX, muitos descendentes dos barões ficaram empobrecidos e venderam seus casarões para construtoras que os colocaram abaixo. Outros, sem terem como arcar com os altos custos de manutenção, subdividiram os cômodos dos palacetes em unidades menores e as alugaram aos migrantes nordestinos. Foi assim que surgiram os primeiros cortiços da região. Outros herdeiros, ainda, simplesmente abandonaram os casarões à própria sorte e eles foram invadidos por mendigos e viciados em drogas.

Vale dizer que, se alguns palacetes do bairro conseguiram se salvar da demolição, foi por obra de ninguém mais, ninguém menos que o finado governador Franco Montoro. Lembra dele? Pois é. Houve um período da década de 1980 em que Montoro governou o Estado de São Paulo ao mesmo tempo em que seu inimigo político Jânio Quadros foi prefeito da capital. Jânio, talvez sofrendo de certa avaria nos neurônios, pretendia colocar abaixo TODAS as construções do bairro de Campos Elísios, aí incluídos os palacetes, a fim de construir arranha-céus envidraçados - cruz credo! Tão logo essa notícia devastadora chegou a seus ouvidos, o governador, inteligentemente, ordenou o tombamento do bairro.

De uns tempos para cá, no entanto, alguns empresários com perfil mais sensível adquiriram alguns daqueles casarões ditos 'cafezistas', restauraram-nos e transformaram-nos em sedes e escritórios de suas empresas, preservando suas características originais. A seguradora Porto Seguro, por exemplo, é uma empresa que adquiriu vários imóveis no bairro, inclusive alguns palacetes. Outros, por sua vez, foram adquiridos pelo Estado, que os transformou em órgãos ou instituições públicas. Vamos a eles, então?

O Casarão Dino Bueno, atual sede da seguradora Porto Seguro - Foto: Simone Catto

O ponto de encontro de nosso tour foi o Casarão Dino Bueno, sede da Porto Seguro, que fica à Rua Guaianazes, 1238. Construído por volta de 1878, esse belo imóvel pertenceu ao barão do café Dino Bueno, que também exerceu funções políticas no Estado e lá residiu até falecer, em 1933. Posteriormente, a casa tornou-se um pensionato e foi tombada em 1985, sendo adquirida pela Porto Seguro naquele mesmo ano e depois cuidadosamente restaurada de acordo com seu projeto original.

A bela varanda do imóvel - Foto: Simone Catto

A hora marcada para nossa chegada era 8h, para que degustássemos o delicioso café da manhã servido em um dos belos salões do Casarão Dino Bueno. A Porto Seguro realmente caprichou nos quitutes, que incluíam sucos variados, salada de frutas, croissants, pães doces e salgados e deliciosos bolos caseiros – além de leite, café e chocolate. O grupo era grande, com cerca de 40 pessoas, e aproveitamos o momento para conversar e tirar fotos.

O salão onde foi servido nosso café da manhã: dá gosto tomar café em um espaço como esse! 
Foto: Nilton Santana (www.saopauloantiga.com.br)

Um outro detalhe do belo salão do café da manhã, no Casarão Dino Bueno.
Foto: Simone Catto

A casa tem salões bonitos e imponentes, com pés direitos altos, e é um delicioso exercício tentar imaginar como viviam as pessoas que moravam ali. Os ornamentos decorativos e a arquitetura do palacete estão muito bem preservados.

Foto: Simone Catto
   
Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

O tour saiu às 9h, conduzido por Douglas Nascimento, jornalista criador do site 'São Paulo Antiga', e pela simpática Kátia, guia e colaboradora. O fotógrafo Nilton Santana, também da equipe, registrou cada momento. A organização foi impecável e um carro da Porto Seguro nos acompanhou durante todo o trajeto para cuidar da segurança do grupo, ao lado de alguns seguranças a pé. De quando em quando, uma jovem funcionária da Porto nos oferecia copos de água mineral, um cuidado providencial naquele domingo ensolarado.

Bem em frente ao Casarão Dino Bueno está o Casarão Pratesno nº 1281, também adquirido pela Porto Seguro e em fase de restauração. Esse casarão neoclássico data de 1896 e dizem que foi o segundo a ser construído na rua. Lá morou outro barão do café, Alfredo Prates, que veio de Portugal trazendo um arquiteto francês chamado Florimond Colpaert especialmente para projetar sua residência. Mas foi um italiano, Dammaso Ferrara, que ficou encarregado da execução daquela maravilha. Com apenas um andar, a casa tem um porão bem alto que sofreu algumas poucas alterações: uma janela foi eliminada e a outra transformada numa portinhola comercial – vê-se que abrigou um pequeno comércio. Segundo o site São Paulo Antiga, até pouco tempo atrás ali funcionou um cortiço por mais de três décadas. Ainda bem que a casa foi resgatada!

O 'Casarão Prates', agora sob os cuidados da Porto Seguro - Foto: Simone Catto

A Porto Seguro adquiriu uma terceira residência na Rua Guaianazes, no nº 1239, que foi transformada em um espaço de qualidade de vida para os funcionários, com biblioteca, oficinas, palestras, bazar e área de convivência.

O outro casarão da R. Guaianazes pertencente à Porto Seguro, no n◦ 1239 - Foto: Simone Catto

A mansão abaixo, também na Rua Guaianazes, preservou o gradil da época e teria pertencido ao fundador de um grande jornal paulista.

Foto: Simone Catto

O Palacete que hoje pertence à empresa Tejofran, também belíssimo, foi construído na esquina da Rua Guaianazes com a Al. Nothmann, entre 1911-1912, e já tive o prazer de conhecer seu interior em uma outra vista. Veja aqui o post.

O palacete hoje pertencente à Tejofran - Foto: Simone Catto

Em outra esquina da R. Guaianazes com a Al. Nothmann, está outra casa muito bonita de arquitetura eclética que hoje pertence ao Estado – é uma 'Casa de Solidariedade', destinada a crianças e adolescentes em situação de risco social.

A atual 'Casa de Solidariedade', de arquitetura eclética - Foto: Simone Catto

Nosso tour, previsto para durar três horas, na realidade durou mais de quatro, dada a quantidade de informações interessantes que o Douglas tinha para nos transmitir. Por isso, um só post no blog não foi suficiente!


2 comentários:

  1. Parabéns pelo Blog, achei muito interessante, principalmente por envolver as minhas origens. Meu avô (Tobias Bueno Torres), sobrinho do Dino Bueno, residiu no Casarão no tempo que cursou a Faculdade de Direito na USP. Esse seu: "delicioso exercício de tentar imaginar como viviam as pessoas que moravam ali" motivou-me a escrever esse pequeno relato.

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  2. Olá, fico feliz que tenha gostado do blog, obrigada pelo comentário gentil! Pois é, para mim é realmente um exercício fascinante tentar imaginar como viviam as pessoas que habitavam determinadas residências, especialmente uma tão linda quanto aquela onde residiu seu avô Tobias. Imagino que você deva ter ouvido muitas histórias interessantes dele!

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