segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

St. Louis Burger. Sim, o 'fast' pode ser 'nice'.

Definitivamente, não sou a pessoa mais indicada para falar de uma hamburgueria, e por um motivo muito simples: raramente vou a lanchonetes e, quando vou, nunca peço hambúrguer. Sempre acabo optando por outro prato – seja outro tipo de sanduíche, uma salada ou grelhado.

Desta vez não foi diferente. Fui parar na 'St. Louis Burger' a convite de um amigo querido e eternamente faminto que estava a fim de traçar, e com urgência, um sanduba que sustentasse seu 1,90 m de bem nutridos músculos caucasianos. A lanchonete, minúscula e simpática, fica em uma esquina dos Jardins e tem um estilo que eu classificaria como "rústico americano".

A foto mostra toda a extensão da hamburgueria, que não deve ter mais de dez mesas.
Foto: Simone Catto

Hot Dogs também fazem parte do menu - Foto: Simone Catto 
É óbvio que, ao abrir o cardápio, a grande estrela era ele, o hambúrguer. Contudo, havia algumas opções bem atraentes de saladas - e uma, em especial, piscou para mim: a 'Blue Garden Salad' (R$ 30), que originalmente leva folhas verdes, gorgonzola, damasco e nozes. Pedi à garçonete para substituir o queijo gorgonzola pelo Brie e fui gentilmente atendida. Havia duas opções de molhos: o balsâmico e o de mostarda com mel. Optei pelo último. Ficou divino, uma das melhores saladas que já comi nos últimos tempos! As saladas do cardápio também podem ser servidas como 'Side Salads', isto é, em versões menores para acompanhar os sanduíches (R$ 16,50 a 'Blue Garden').

Para beber, pedimos uma 'Crushed Lemonade', limonada "à moda de Louisiana" feita com limões socados (R$ 6,50), e uma 'Berry Lemonade', de limões socados com framboesas (R$ 7,50). Como não poderia deixar de ser, milk shakes também fazem parte do cardápio, com preços que variam entre R$ 16,50 e R$ 18,50.

A deliciosa 'Blue Garden Salad' que, no meu caso, levou Brie ao invés de gorgonzola - Foto: Simone Catto

Só para constar: não tirei foto do hambúrguer que meu amigo pediu, ao lado de uma pequena porção de batatas fritas, porque simplesmente não deu tempo. O homem devorou o prato com a voracidade de um viking recém-chegado de uma invasão bárbara! rs. Ah, os hambúrgueres da casa custam uma média de R$ 30,00. Mesmo não tendo provado nenhum, no entanto, deu para perceber que a qualidade do sanduíche por lá é de primeira. Se você gosta, portanto, vale a pena experimentar o 'St. Louis Burger'. Além de a comida ser boa, o atendimento também é gentil. O único ponto negativo é a música, que poderia estar em volume mais baixo para não atrapalhar a conversa. Será uma estratégia para estimular a rotatividade?... 

A 'ST. LOUIS BURGER' fica à Rua Batataes, 242 – Jardim Paulista – tel.: 3051-3435. Vá lá!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Édouard Manet. Impressionista, só que não.

Mais uma vez, tive o prazer E-NOR-ME de assistir a uma aula de História da Arte do Prof. Renato Brolezzi, no MASP. Como sempre, ele abordou uma obra do acervo do museu e, desta vez, o foco foi para 'Banhistas no  Sena - Academia' (1874-76), de Édouard Manet (1832-1883). 

Édouard Manet - 'Banhistas no Sena' (1874-76)

Em primeiro lugar, vale ressaltar que Manet é autor de uma obra vasta e realmente impressionante, porém NÃO impressionista - com a licença do trocadilho! - embora tantas vezes afirmem o contrário por aí. Manet é Manet. E ponto. Detentor de um estilo único, um jeito que é só dele de fazer pintura. E que pintura!


Manet retratado por Félix Nadar

Vamos, então, à obra em questão. Durante muito tempo, 'Banhistas no Sena' foi considerada apenas um estudo, e não um quadro acabado. É simples descobrir por quê. À época de Manet, a única pintura considerado bela, respeitável e "séria" era a acadêmica, que priorizava o desenho e retratava temas históricos ou mitológicos. Eram cultuados mestres como William-Adolphe Bouguereau (1825-1905) e François Boucher (1703-1770) - este último pintor oficial da corte de Luís XV - que, embora fossem geniais e criadores de uma obra belíssima, obviamente não eram modernos.

Manet, por sua vez, rompeu com o desenho. Da ponta de seus pincéis saem empastamentos cromáticos, e não desenhos com limites e contornos definidos. Se fizermos um Raio X das 'Banhistas', não encontraremos traços de desenho sob as camadas de tinta.

Manet era moderno e ousou sê-lo. Porém, não era um aventureiro: possuía a base de uma formação clássica na Escola de Belas Artes de Paris. Sim, Manet aprendeu a desenhar com mestres como Thomas Couture (1815-1879), que se escandalizava com a rebeldia do aluno, e copiava Boucher no Louvre. Ocorre que apenas quem sabe desenhar pode se dar ao luxo de ser moderno, de inovar. Só quem tem uma base acadêmica adquire argumentos para justificar sua transgressão. E se alguém tinha autoridade para transgredir, esse alguém era Manet.

Certamente, o artista teve a oportunidade de contemplar, no Louvre, obras como 'O Banho de Diana' (1745) e 'Diana repousando após o banho' (1742), ambas do mestre Boucher. Sabemos que, na mitologia grega, Diana era a deusa da caça e da lua. Nessas duas obras, é como se olhássemos pela fechadura e flagrássemos um momento íntimo da deusa. Esse ponto de vista de voyeur é típico de Boucher, que oferece ao espectador um prazer quase secreto.

François Boucher - 'O Banho de Diana' (1745)

A deusa Diana, assim como outros seres mitológicos, eram representados com ícones que os distinguiam. Na obra abaixo, Diana tem uma meia-lua na testa e vemos cães de caça bebendo água em um riacho, dando-nos claras indicações de que se tratava da deusa da lua e da caça.

François Boucher - 'Diana repousando após o banho' (1742)

Em 'Banhistas no Sena', Manet pode ter se inspirado, de certa forma, em uma ou ambas as obras. Basta notar a pose das pernas da banhista em primeiro plano, muito parecida com a de Diana nos quadros de Boucher. Mas não vamos nos iludir. Manet transgrediu em vários sentidos.

Em primeiro lugar, o artista rompeu o código de retratar mulheres nuas apenas como seres mitológicos. Na sociedade ocidental da época, retratar mulheres como deusas, ninfas ou outros seres sobrenaturais era a desculpa para oferecer, ao espectador, o espetáculo de um belo corpo nu. Manet retratou duas mulheres comuns tomando banho no rio Sena, com toda a sua banalidade e a imperfeição de seus corpos. Choque.

Além disso, Manet não fazia questão de "explicar" nada. Era puro enigma. Quem são aquelas mulheres que tomam banho no rio? Não são "ninguém". Não são Diana, nem Vênus, nem Juno. São apenas duas anônimas, duas parisienses quaisquer desfrutando um prazer simples. Os códigos usados para que as pessoas entendessem a pintura de Boucher e a pintura tradicional definitivamente não se aplicavam às banhistas de Manet.

Você notou que, em 'Banhistas no Sena', existe uma perna pintada sobre a pedra, abaixo da perna da banhista em primeiro plano? A explicação é simples: Manet havia pintado primeiro aquela perna, se arrependeu, pintou outra, mas não apagou a anterior. Simples assim. Daí tanta gente pensar que essa pintura fosse um estudo, um esboço. Mas não. Era uma obra acabada. Manet deixou a perna anterior registrada na pedra propositalmente, porque entendia a pintura como um processo. Não era só o resultado final que importava, mas o making-of. Essa moda de registar o making-of de toda e qualquer obra não é de agora, como você pode ver!

Uma outra característica comum nas obras de Manet que observamos nas 'Banhistas no Sena' é a síntese plástica, a ausência de ornamentos e detalhes. Manet detinha-se no essencial. É o que também observamos na obra abaixo, 'O Bebedor de Absinto' (1859), que se resume a três elementos, o bebedor, a garrafa e a taça, ilustrados com pouquíssimas cores: cinza, ocre, preto e branco. A pintura, que lembra muito 'O retrato de Pablo de Valladolid' (c. 1632-5), do espanhol Diego Velázquez (1599-1660), foi recusada no Salão de 1959. Um fato curioso é que, embora confrontasse continuamente os códigos pictóricos existentes, Manet era ávido pela aceitação nos salões oficiais. Não se cansava de submeter suas obras ao júri anual, mas elas eram sucessivamente recusadas.

Manet - 'O Bebedor de Absinto' (1859)

Diego Velázquez - 'Pablo de Valladolid' (c. 1632-1635)

A pintura a seguir, 'O Toureiro Morto' (1864), é outra obra em que "o pouco diz muito". Ao invés de retratar o toureiro em seu momento de glória e triunfo, Manet mostra-o derrotado em um ângulo ousado que reforça o anticlímax da cena.

´Manet - 'O toureiro morto' (1864)

Os temas espanhóis são recorrentes aqui e ali na obra de Manet. É o caso de 'O Balcão' (1868), pintura inspirada em 'Majas no Balcão' (1810), do espanhol Francisco de Goya Y Lucientes (1746-1828). Note o esboço de um homem ao fundo. Quem seria aquela criatura soturna a observar o trio banhado em luz no primeiro plano ? Mais um dos enigmas de Manet. A propósito, esse contraste gritante entre claro e escuro era muito comum na obra do artista.

Manet - 'O Balcão' (1868)


Goya - 'Majas no Balcão' (1746-1828)

A alegre obra abaixo, 'Música nas Tulherias' (1862), está entre as mais conhecidas de Manet e retrata um divertimento tipicamente burguês: o domingo no parque - no caso, o Jardim das Tulherias - que os parisienses frequentavam para flertar, ouvir música, conversar, ver e ser vistos. À época, a pintura foi duramente criticada porque o tema era considerado "vulgar". (Os críticos de então precisariam viver hoje no Brasil para descobrir o que significa vulgaridade! Coitados.)

Manet - 'Música nas Tulherias' (1862)

No Salão de 1863, a quantidade de artistas recusados foi tão grande que deflagrou um verdadeiro festival de cartas, reclamações e impropérios ao corpo de jurados. Napoleão III, político hábil que era, apaziguou os ânimos com uma solução contemporizadora: criou o célebre 'Salão dos Recusados' para abrigar as obras dos artistas rejeitados. Bingo.

Foi assim que Manet conseguiu expor, naquele mesmo ano, 'Almoço na Relva' (1862-63), uma paródia escandalosa da gravura 'O Julgamento de Páris' (c. 1548), de Marcantonio Raimondi, aluno de Rafael que reproduziu essa e muitas outras obras de seu mestre. Manet escolheu um fragmento do desenho e, a partir daí, pintou sua provocação.

Manet - 'Almoço na Relva' (1862-3)

Marcantonio Raimondi - 'O Julgamento de Páris' (c. 1548), gravura que é cópia de Rafael.
Em destaque, o excerto da obra no qual Manet se baseou para criar 'Almoço na Relva'.

Novamente, os enigmas se fazem presentes. Por que apenas a moça em primeiro plano está nua? Por que ela nos olha tão fixamente? Por que um dos rapazes usa chapéu oriental? O que ele diz à moça ao estender o braço para ela? As perguntas são muitas, mas as respostas ficam na imaginação de cada um. A modelo da jovem nua foi Victorine Meurent, que também se arriscava na pintura e posou para outra obra famosa de Manet, 'Olympia'.

E já que falamos nela... vamos, agora, à obra que, em minha opinião é a mais icônica de toda a produção do artista: sim, ela mesmo, 'Olympia’ (1863). Novamente, Manet se inspirou na obra de outro mestre italiano: 'A Vênus de Urbino' (1538), de Ticiano (1490?-1576), para produzir uma obra que chocou seus contemporâneos.

Manet - 'Olympia' (1863), a deusa decaída. 

Ticiano - 'A Vênus de Urbino' (1538)

A pintura de Ticiano, embora apresente um caráter sensual, é cheia de candura. Dividida em dois planos separados por um biombo, retrata dois mundos: o espaço comum e a alegoria. No "espaço comum", ao fundo, estão duas serviçais arrumando um baú – possivelmente, um baú de enxoval, já que o quadro foi encomendado pelo duque de Urbino por ocasião de suas núpcias.

À frente, está a Vênus refestelada no divã com todos os ícones visuais que caracterizavam as Vênus de então: os cabelos loiros; as flores nas mãos - a deusa preside o nascimento da primavera; um bracelete em formato de cobra mordendo o próprio rabo – ícone do século XVI para representar a Vênus e que simboliza o eterno retorno à vida; e, finalmente, o brinco de pérola, para mostrar que a criação da beleza envolve grande sofrimento, já que a pérola é produzida quando um grau de areia fere o molusco na concha. Evidentemente, se o espectador dessa obra não possuísse um repertório erudito básico sobre mitologia, não teria condições de associar esses códigos à figura da Vênus. 

E o que fez Manet? Criou Olympia, a deusa decaída que vende seu amor. Olympia é uma cortesã, ou prostituta, que desafia o espectador encarando-o despudoradamente.
Veja, a seguir, como Manet dessacralizou a obra de Ticiano:

● Enquanto a Vênus de Urbino tapa o sexo com pudor, nossa Vênus mundana tem as mãos espalmadas sobre ele – esse era um sinal, nos bordéis da época, de que a moça estava disponível.

● Ao invés das flores virginais, vemos uma flor murcha no cabelo de Olympia.

● A pele da Vênus de Ticiano é alva, rosada, tem aparência saudável. Já a pele de Olympia é amarelada, de aspecto doentio – uma afronta!

● E no lugar do cachorrinho do quadro de Ticiano, símbolo da natureza domesticada, o que vemos? Um gato negro escandalosamente ouriçado, como um símbolo de mau agouro – lembrando, também, que os gatos são animais essencialmente livres.

● E ainda: Olympia não usa joias. Suas pérolas são falsas e seu bracelete é bijuteria, uma invenção do século XIX.

● Repare, também, na diferença de tamanho entre a Vênus de Urbino e Olympia. A Vênus reina majestosa, longilínea, preenchendo todo o espaço do divã. Já Olympia é pequena, atarracada, mal ocupando o espaço que lhe cabe.

A negra, atrás, é provavelmente uma criada que lhe entrega as flores presenteadas por um amante ou cliente satisfeito. Olympia, enfim, é a Vênus do mercado burguês, não a Vênus da eternidade do Renascimento. Como já seria de se esperar, a pintura causou grande escândalo e comentários de indignação à época, mas, curiosamente, foi finalmente aceita no Salão de 1865. 

Esta é apenas uma amostra muito ínfima da obra do grande Édouard Manet, que é infinitamente mais variada e apaixonante, despertando em nós a vontade de conhecer mais e mais. Quem sabe em um próximo post?...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

'La Mamma'. Diversão ligeira com grandes atores.

Ao escolher uma peça de teatro, é muito comum a gente seguir as indicações da crítica especializada e, ao assistir ao espetáculo, descobrir que ele não é tudo isso. Já o contrário é mais difícil, mas não impossível.

É o que acabo de vivenciar com a comédia 'La Mamma', que sequer foi avaliada pelo Guia da Folha (sempre ele!) e se revelou bem divertida. O que me atraiu de imediato foi o elenco: nela estão a ótima Rosi Campos e o carismático ator global Leonardo Miggiorin. Ao assistir à peça, me surpreendi ainda mais, sobretudo com a ótima atuação de um ator que não conhecia, Carlo Briani, que desempenhou três papéis: um tio, um padre e um tabelião.

Carlo Briani, aqui caracterizado como o 'tio'; Rosi Campos, a 'mamma', e Leonardo Miggiorin, aqui interpretando 'Aldo'.

Miggiorin, caracterizado como 'Antonio', e Briani, agora como padre.

Inspirada no romance 'O Belo Antonio', de Vitaliano Brancati (1907-1954), que ganhou fama após tornar-se um sucesso na telona em 1960 em filme protagonizado por Marcello Mastroianni e dirigido por Mauro Bolognini, a peça também é ambientada nessa década na fictícia cidade de Santa Rita, no interior de São Paulo.

Rosi Campos interpreta uma superlativa 'mamma' ítalo-brasileira, com todos os trejeitos de uma matriarca dramática e um grande problema: descobre que seu belo filho Antonio Magnano (Miggiorin) é impotente, e a trama desenvolve-se sobre suas tentativas desesperadas de esconder a "vergonha" dos amigos e vizinhos. É assim que a desesperada 'mamma' arquiteta um plano mirabolante que envolve Aldo, o irmão gêmeo dentuço, desleixado e preguiçoso de Antonio, também interpretado com versatilidade por Leonardo Miggiorin.

Rosi Capos e Leonardo Miggiorin no papel dos irmãos-gêmeos Antonio e Aldo, um o oposto do outro.

O excelente elenco: Carlo Briani, Rosi Campos, Leonardo Miggiorin e Débora Gomez, que também interpreta dois papéis:
a empregada da casa e Barbara, esposa de Antonio.

O roteiro é ótimo, ágil e prende a atenção em cada um dos 100 minutos da peça. O texto também é muito bem costurado e tem algumas tiradas bem engraçadas, sobretudo aquelas que saem da boca do tio dos meninos (Carlo Briani). Só achei que poderia explorar melhor a língua italiana e utilizar mais palavras divertidas daquele idioma. Não espere mensagens dramáticas, lições de moral ou os ensinamentos filosóficos do grande "teatrão". 'La Mamma' é uma peça criada unicamente para divertir e, como bom teatro que é, cumpre perfeitamente a função.

Ficha técnica

Texto: André Roussin
Direção: Carlos Artur Thiré
Elenco: Rosi Campos, Leonardo Miggiorin, Carlo Briani, Débora Gomez

'LA MAMMA' estreou em agosto de 2013 e deveria ter saído de cartaz em dezembro, mas, felizmente, teve sua temporada prorrogada até 16 de março. Se você está a fim de dar umas boas risadas, vale a pena assistir! 

A peça está em cartaz no Teatro Nair Bello, no Shopping Frei Caneca – Rua Frei Caneca, 569 – Consolação. Tel.: 3472-2414. A inteira sai por R$ 60. Horários: sexta às 21h30, sábado às 21h e domingo às 19h. Confira!

domingo, 9 de fevereiro de 2014

'El Guatón'. Um simpático pedacinho do Chile em São Paulo.

Eu nunca havia ouvido falar do 'El Guatón' até um amigo me apresentar esse minúsculo bar-restaurante especializado em culinária chilena que fica no finalzinho da Rua Artur de Azevedo, quase desembocando na Av. Henrique Schaumann.

Trata-se de mais um daqueles lugares gostosinhos e despretensiosos para noites de verão, para a gente comer bem e sem luxos. Lá podemos saborear desde pratos típicos do Chile, como empanadas, ceviches, peixes, frutos do mar e pastel de choclo (torta de creme de milho verde, carne, peito de frango, azeitonas e ovo), entre outros, até porções triviais de bar, como filé aperitivo, mandioca frita e provolone à milanesa. Para os carnívoros de plantão, não falta nem a tradicional picanha no réchaud.

Foto: www.elguaton.com.br

Ficamos com as empanadas, de massa saborosa e fininha e muito bem recheadas. Pedi a minha de camarão (R$ 8,50), que estava uma delícia, e meu amigo traçou duas de carne (R$ 6). Se você pretende experimentar as empanadas, não deixe de pedir o molhinho à vinagrete picante, que valoriza o quitute. É muito bom!

As deliciosas empanadas - foto: br.kekanto.com
Naquele dia eu estava com sede e um tanto comportada: tomei um refrescante suco de melancia (R$ 6) que, ao contrário do que acontece em tantas casas que servem sucos em copos minúsculos, chegou à mesa em uma generosa e simpática jarrinha. Não tirei fotos porque, como fui pega de surpresa, não levei minha câmera e meu celular estava sem bateria. As fotos que aqui estão foram pegas da Internet, mas, de qualquer modo, as empanadas são servidas exatamente do jeito que você está vendo, nessas travessas estreitinhas.  

Se você pretende conhecer o lugar e experimentar um dos pratos típicos chilenos, tente chegar antes das 21h para pegar uma das mesinhas do terraço da frente, mais gostoso e concorrido no verão.

Em tempo: pesquisei para saber o que significa "El Guatón" e descobri que, no Chile, significa algo como "O Barrigudo"... rs. Faz sentido, com tantas coisas gostosas. Na próxima vez, pretendo experimentar um ceviche ou o mariscal al matico (mistos de choritos, vôngole, calamares, limão, temperos, cebola e coentro), que devem ser uma delícia! (A propósito, não sei o que são "choritos", mas vou descobrir!)

O mariscal promete! - foto: www.elguaton.com.br

O 'EL GUATÓN' também tem uma filial na Rua Mourato Coelho, mas visitamos a matriz, que fica na Rua Artur de Azevedo, 906 – Pinheiros. Tels.: 3085-9466 / 3807-9647 – www.elguaton.com.br. Vale a pena conhecer!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Caspita Bar e Restaurante. Para matar a fome sem grandes pretensões.

Noite dessas, fui com amigos ao cine Bristol, na Avenida Paulista, e resolvemos jantar na região mesmo, já que havíamos deixado o carro no prédio do cinema e seria muito mais prático irmos a pé, já que não faltam restaurantes e bares na região. Resolvemos ir ao Athenas, na esquina da Rua Augusta com a Antônio Carlos, mas quem disse que conseguimos mesa? A espera, como tem sido usual por lá, seria de meia hora para mais. Aí, fizemos algo que já fiz anteriormente, e pelo mesmo motivo: atravessamos a rua e fomos ao 'Caspita Bar e Restaurante', bem em frente. Para nossa sorte, havia uma agradável mesa externa para matarmos a fome naquela noite em que os termômetros marcavam algo próximo dos 30 graus.

Foto: Rogerio Canella - Folhapress

Como o 'Cáspita' não tem nenhum apelo especial, acabou saindo-se bem com as longas filas do vizinho da frente, já que boa parte dos clientes, assim como nós naquela noite, é formada por gente que desiste do Athenas e acaba indo para lá.

O lugar é simples e o salão interno é bem sem-graça. O que a casa tem de bom é a boa relação custo-benefício. Além de petiscos triviais, há várias opções de pratos individuais. As massas, particularmente, são bem em conta. Por exemplo: meu prato de penne ao pesto saiu por R$ 25,00, é bem servido e estava ótimo. Os pratos à base de carne, com acompanhamentos, saem por uma média de R$ 32,00.

O meu penne al pesto estava muito bom - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto
Como tem sido habitual nessas noites de verão, pedi um vinho branco para acompanhar a refeição. Obviamente, as opções de vinhos eram limitadíssimas, o que já seria de se esperar, uma vez que essa não é a vocação e nem a proposta da casa. Um detalhe simpático, no entanto, é que o restaurante oferece garrafinhas de 187 ml, o que foi bem providencial, já que apenas eu iria consumir vinho naquela noite. O garçom me trouxe então o chileno Santa Carolina Vistaña Cabernet Sauvignon/Sémillon, que realmente me surpreendeu, pois estava seco, levinho, levemente cítrico e, em minha opinião, absolutamente equilibrado. Perfeito para uma conversa descontraída no verão! Mais um para minha lista de brancos.

O que posso dizer é que comemos bem e matamos a fome sem gastar muito, ficamos satisfeitos com as bebidas e o papo rolou solto enquanto apreciávamos a fauna que costuma desfilar na calçada por aquelas bandas. Sem sombra de dúvida, foi um daqueles jantares nada planejados que acabam nos surpreendendo de forma deliciosa!

O endereço do CASPITA BAR e Restaurante é Rua Antônio Carlos 344 – Cerqueira César.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

'A Grande Beleza'. A busca do sentido da vida em meio ao luxo e ao decadentismo.

Um filme de antigamente. Esta é a primeira impressão que me ocorreu logo nas cenas iniciais de 'A Grande Beleza', produção ambientada em Roma que tem direção de Paolo Sorrentino e se destaca por uma onipresente matriz felliniana. Exibido no Festival de Cannes de 2013, o filme é um grande favorito para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.


O protagonista, Jep Gambardella (Toni Servullo)

Presença maciça do Catolicismo: a toda hora, vemos padres e freiras no filme.

Tudo começa quando Jep Gambardella (Toni Servillo), escritor de um livro só que trabalha como jornalista para uma revista de celebridades, comemora seu aniversário de 65 anos com uma festa "de arromba", por assim dizer. A balada, realizada a céu aberto no topo de alguma casa noturna de Roma, tem de tudo muito: ricos ociosos, ricos viciados, ricos ociosos e viciados, atrizes decadentes e prostitutas de luxo, entre outros tipos exóticos que se esbaldam em um cenário hedonista onde sobra dinheiro e falta sentido para a vida. As referências aos personagens de Fellini são tão ostensivas, que até uma anã foi incorporada ao elenco: a editora-chefe da revista onde Jep trabalha e com a qual ele tem uma fraterna relação de amizade.

Jep Gambardella, o escritor rico (Toni Servillo)

A festa doida no aniversário de Jep

A fauna humana, tão abundante quanto seu vazio existencial, desfila diante dos olhos de Jep de festa em festa, de jantar em jantar. Embora integrado àquele mundo mundano da alta roda, porém, ele é lúcido o suficiente para agir mais como um sensível e melancólico observador do que como um participante daquela loucura.

A vida de Jep: uma sucessão de festas. Aqui, ao lado de seu amigo Romano (Carlo Verdone).


Homem sofisticado que não tem grandes ilusões a respeito da vida e não se deixa enganar pelo falso brilho da alta sociedade que frequenta, Jep destila uma boa dose de cinismo ao confrontar alguns de seus entrevistados para a revista. É o caso de uma artista performática picareta que apresenta uma performance tão absurda quanto a capacidade de algumas pessoas de se deixarem levar por esse tipo de engodo, em uma crítica fina, irônica – e justificada - a certas vertentes da arte contemporânea. Em outra cena, Jep está em uma festa onde uma pobre menina de dez anos, supostamente um "gênio mirim das artes plásticas", é literalmente arrancada de sua brincadeira com os amiguinhos e forçada pelo pai a executar, diante dos convidados, uma performance em que lança jatos de tinta coloridas sobre uma parede branca, em um simulacro de 'action painting' versão "exploração infantil".

A garotinha obrigada por pais insanos a executar sua performance. 

Apesar de todo o cinismo com relação a seu mundo, o escritor reserva um olhar generoso para com seus pares - os amigos que recebe em seu magnífico terraço com vista para o Coliseu - para beber, filosofar sobre a vida e tentar explicar, pela enésima vez, por que não escreveu mais nenhum livro quatro décadas após sua promissora estreia literária.

O fato é que, ao longo de todo o filme, o homem coloca sua vida em perspectiva, repensando algumas escolhas e tentando compreender o sentido de outras, sempre acompanhado por deslumbrantes passeios de câmera pelos belos cenários da capital italiana. A busca do sentido da vida – pelo menos "daquele" tipo de vida – é o que dá sentido a esse belo filme. Por tudo isso, portanto... não faz sentido não assistir!

Vá lá: 'A GRANDE BELEZA' está em cartaz no excelente Cine Livraria Cultura e também no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca e no Pátio Higienópolis Cinemark, entre outras salas.

Ficha técnica parcial

Direção: Paolo Sorrentino

Elenco: Com Toni Servillo (Jep Gambardella), Carlo Verdone (Romano), Sabrina Ferilli (Ramona), Isabella Ferrari (Orietta) e Sonia Gessner (Contessa Colonna), entre outros.