sábado, 1 de fevereiro de 2014

'A Grande Beleza'. A busca do sentido da vida em meio ao luxo e ao decadentismo.

Um filme de antigamente. Esta é a primeira impressão que me ocorreu logo nas cenas iniciais de 'A Grande Beleza', produção ambientada em Roma que tem direção de Paolo Sorrentino e se destaca por uma onipresente matriz felliniana. Exibido no Festival de Cannes de 2013, o filme é um grande favorito para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.


O protagonista, Jep Gambardella (Toni Servullo)

Presença maciça do Catolicismo: a toda hora, vemos padres e freiras no filme.

Tudo começa quando Jep Gambardella (Toni Servillo), escritor de um livro só que trabalha como jornalista para uma revista de celebridades, comemora seu aniversário de 65 anos com uma festa "de arromba", por assim dizer. A balada, realizada a céu aberto no topo de alguma casa noturna de Roma, tem de tudo muito: ricos ociosos, ricos viciados, ricos ociosos e viciados, atrizes decadentes e prostitutas de luxo, entre outros tipos exóticos que se esbaldam em um cenário hedonista onde sobra dinheiro e falta sentido para a vida. As referências aos personagens de Fellini são tão ostensivas, que até uma anã foi incorporada ao elenco: a editora-chefe da revista onde Jep trabalha e com a qual ele tem uma fraterna relação de amizade.

Jep Gambardella, o escritor rico (Toni Servillo)

A festa doida no aniversário de Jep

A fauna humana, tão abundante quanto seu vazio existencial, desfila diante dos olhos de Jep de festa em festa, de jantar em jantar. Embora integrado àquele mundo mundano da alta roda, porém, ele é lúcido o suficiente para agir mais como um sensível e melancólico observador do que como um participante daquela loucura.

A vida de Jep: uma sucessão de festas. Aqui, ao lado de seu amigo Romano (Carlo Verdone).


Homem sofisticado que não tem grandes ilusões a respeito da vida e não se deixa enganar pelo falso brilho da alta sociedade que frequenta, Jep destila uma boa dose de cinismo ao confrontar alguns de seus entrevistados para a revista. É o caso de uma artista performática picareta que apresenta uma performance tão absurda quanto a capacidade de algumas pessoas de se deixarem levar por esse tipo de engodo, em uma crítica fina, irônica – e justificada - a certas vertentes da arte contemporânea. Em outra cena, Jep está em uma festa onde uma pobre menina de dez anos, supostamente um "gênio mirim das artes plásticas", é literalmente arrancada de sua brincadeira com os amiguinhos e forçada pelo pai a executar, diante dos convidados, uma performance em que lança jatos de tinta coloridas sobre uma parede branca, em um simulacro de 'action painting' versão "exploração infantil".

A garotinha obrigada por pais insanos a executar sua performance. 

Apesar de todo o cinismo com relação a seu mundo, o escritor reserva um olhar generoso para com seus pares - os amigos que recebe em seu magnífico terraço com vista para o Coliseu - para beber, filosofar sobre a vida e tentar explicar, pela enésima vez, por que não escreveu mais nenhum livro quatro décadas após sua promissora estreia literária.

O fato é que, ao longo de todo o filme, o homem coloca sua vida em perspectiva, repensando algumas escolhas e tentando compreender o sentido de outras, sempre acompanhado por deslumbrantes passeios de câmera pelos belos cenários da capital italiana. A busca do sentido da vida – pelo menos "daquele" tipo de vida – é o que dá sentido a esse belo filme. Por tudo isso, portanto... não faz sentido não assistir!

Vá lá: 'A GRANDE BELEZA' está em cartaz no excelente Cine Livraria Cultura e também no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca e no Pátio Higienópolis Cinemark, entre outras salas.

Ficha técnica parcial

Direção: Paolo Sorrentino

Elenco: Com Toni Servillo (Jep Gambardella), Carlo Verdone (Romano), Sabrina Ferilli (Ramona), Isabella Ferrari (Orietta) e Sonia Gessner (Contessa Colonna), entre outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário