sábado, 13 de setembro de 2014

'Bem-vindo a Nova York'. Depardieu dá show como o famoso tarado sexual processado por camareira.

Confesso que estava procrastinando um bocado para escrever sobre esse filme. Ele acabou de estrear em São Paulo, está com uma boa cotação nos guias especializados, mas devo dizer que o achei um tanto deprimente – talvez pela rudeza como a história, já pesada por si só, foi abordada e narrada. 

Para quem não sabe, o enredo de 'Bem-vindo a Nova York', filme de Abel Ferrara, é baseado em um escândalo sexual ocorrido há uns três anos nos Estados Unidos. Na ocasião, Dominique Strauss-Kahn, um francês sessentão todo-poderoso do Fundo Monetário Internacional e que inclusive aspirava à presidência da República pelo Partido Socialista, tentou violentar a camareira do hotel cinco-estrelas onde se hospedava em Manhattan, e ela meteu-lhe um processo. A história estourou na imprensa do mundo inteiro e o réu renunciou a seu cargo no FMI, embora não tenha permanecido quase nada atrás das grades.

No filme, o protagonista pervertido chama-se M. Devereaux e quem o interpreta é o excelente Gerard Dépardieu, magistral em sua caracterização. Já no início, percebe-se o tipo de homem que ele é: um sujeito totalmente devasso, repugnante e viciado em sexo que não poupa de suas investidas nenhuma mulher que cruze seu caminho. Logo de cara, há uma sucessão de cenas de orgia em que Devereaux e seus "amigos" divertem-se com prostitutas de luxo em hotéis e até no próprio local de trabalho. Em determinado momento, inclusive, ele tenta "empurrar" uma delas, sem pudor algum e sem sucesso, para cima de outro executivo de quem deseja obter vantagens. As cenas de sexo são mostradas com tal crueza, e o clima é tão barra-pesada, que é impossível não sentir asco por aquele homem.

Gerard Dépardieu em uma das cenas de orgia.

Para completar, Depardieu imprime todo o peso de sua imoralidade ao aspecto físico do personagem, um homem imenso que anda com dificuldade e se arrasta para lá e para cá com um corpanzil disforme e uma respiração constantemente ofegante.

Devereaux é casado com a elegante e discreta Simone, interpretada por Jacqueline Bisset, que até o escândalo estourar suporta heroicamente as traições e libertinagens do marido, fornecendo-lhe todo o apoio necessário para que se candidatasse à Presidência da República na França. Quando o homem vai para a cadeia, é ela que levanta o dinheiro para pagar a fiança milionária que irá libertá-lo. Apesar de passar por situações humilhantes na prisão, sobretudo se considerarmos sua posição social e financeira, Devereaux mal tem tempo de sentir o que significa realmente estar confinado numa cela. E em uma reflexão final, sua absoluta ausência de moralidade fica patente na forma autoindulgente como encara seus atos e seu comportamento.

Jacqueline Bisset interpreta 'Simone', a esposa elegantérrima com paciência de Jó e estômago de avestruz.

Momento da revista na prisão: humilhação em cena dantesca.

Naturalmente, conforme assinala um letreiro no início do filme, nem tudo o que é mostrado corresponde à realidade, inclusive porque seus realizadores não teriam como ter acesso a determinadas informações, como as nuances do relacionamento do próprio Strauss-Kahn com a esposa e alguns detalhes sórdidos de suas aventuras sexuais. Não sei se, caso o diretor tivesse tido uma mão mais leve e abordado o tema de forma mais branda, sobretudo nas cenas de sexo, minha impressão teria sido diferente. Desconfio, contudo, que a intenção tenha sido essa mesmo: chocar, para que o espectador fosse impactado com a sordidez da situação em toda a sua dimensão.

Ficou curioso(a)? ‘Bem vindo a Nova York’ está em cartaz no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca, no Caixa Belas Artes, no Reserva Cultural e em outras salas.

Ficha técnica parcial

Direção: Abel Ferrara
Elenco: Gérard Dépardieu, Jacqueline Bisset, Marie Mouté, Amy Ferguson, Paul Calderon e outros.

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