sexta-feira, 6 de março de 2015

Armadilha, no Teatro João Caetano. Uma trama de suspense que merecia mais apuro.

Em algumas resenhas, a peça Armadilha, atualmente em cartaz no Teatro João Caetano e encenada pela primeira vez no Brasil, é descrita como um "suspense de sucesso apresentado na Broadway". O texto, premiado internacionalmente, é de autoria do norte-americano Ira Levin (1929-2007), considerado um grande dramaturgo do gênero suspense. É dele, por exemplo, o romance 'A Semente do Diabo', que deu origem a um filme clássico de terror do final dos anos 60, 'O Bebê de Rosemary', dirigido por Roman Polanski. E agora, além de inédita no Brasil, Armadilha é também a peça de estreia de um novo grupo teatral, a Cia. Goya de Teatro.

O enredo é interessante. Um dramaturgo de meia-idade e nenhum escrúpulo atravessa uma fase de bloqueio criativo e dispõe-se a qualquer coisa para recobrar o prestígio, o dinheiro e o sucesso perdidos – até cometer um crime, se for preciso. Com quatro personagens em cena, a trama tem boas surpresas e reviravoltas, o que supostamente garantiria o envolvimento do público. Porém, faltou algo. Não impactou.

O elenco da peça - Foto: Divulgação

A iluminação é lúgubre e o cenário, bem como os figurinos, são predominantemente escuros, com muito negro - talvez um recurso proposital para transmitir visualmente a atmosfera de "armadilha" que define o enredo. Até aí, tudo bem. No entanto, o fato de termos uma produção assumidamente minimalista e sombria não seria justificativa para um descuido dos detalhes cênicos. Muito pelo contrário, é justamente na simplicidade que a atenção deve ser redobrada para não empobrecer o resultado. Porque simplicidade é uma coisa e simplismo é outra. O fato é que, aqui, especialmente, a cenografia deveria ser um elemento destinado a agregar mais intensidade dramática à trama de suspense e cuidadosamente pensado para ajudar a concentrar o interesse do público. No entanto, infelizmente, não foi o que constatei.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação
Essa deficiência, pelo menos para mim, tornou-se mais evidenciada pela fragilidade de um texto que, não sei se por um problema de tradução ou de interpretação, soou também simplório e repetitivo. Faltou brilho. Um sentimento surpreendente, já que, como mencionei anteriormente, a qualidade do texto foi reconhecida com prêmios conferidos por entidades respeitadas no exterior. Não sou especialista em teatro, veja bem, estou apenas sendo honesta ao relatar minha experiência como mera espectadora. Este é o objetivo deste blog. Ocorre que assisti à peça com amigos e, coincidência ou não, todos emitiram as mesmas opiniões à mesa do jantar depois do teatro.

Se você quiser conferir se a sua opinião também coincide com a nossa, anote: ARMADILHA está em cartaz no Teatro João Caetano – R. Borges Lagoa, 650 - Vila Clementino. Tels.: (11) 5573-3774 e 5549-1744. Há apresentações às sextas e sábados às 21h e domingos às 19h. Obs.: não haverá espetáculo nos dias 6, 7 e 8 de março. Duração: 75 minutos. Ingresso: R$ 10,00. Até 29/3.

Ficha técnica parcial

Texto: Ira Levin
Tradução: Jorge Minicelli
Direção: Susanne Walker

Elenco: André Magalhães, Jorge Minicelli, Lu Grillo e Marília Persoli.

segunda-feira, 2 de março de 2015

O Homem de La Mancha. Produção primorosa para os fãs de musicais.

Confesso que a temática do musical O Homem de La Mancha, em cartaz no Teatro do Sesi, não me atraía. Mesmo assim, fui assistir ao espetáculo a convite de uma pessoa querida que conseguiu os ingressos, bastante concorridos, com antecedência. Além do mais, o fato de ser encenada no Teatro do Sesi já é, por si só, um aval de qualidade para qualquer peça. Para falar a verdade, não me lembro de ter assistido, lá, a qualquer apresentação que pudesse ter sido classificada como "ruim". No entanto, é natural que, por uma questão de gosto pessoal, nem tudo o que vi por lá me apaixonou – como é o caso deste musical e de outro, 'A Madrinha Embriagada', igualmente dirigido por Miguel Falabella.

Contudo, a soma dos pontos positivos, isto é: a garantia de qualidade, a boa companhia e a entrada franca venceram meu desinteresse pelo tema e pelo gênero "musical" em geral. E realmente, a produção de O Homem de La Mancha é de primeiríssima. O elenco também é muito bom. Já as músicas, bem... juntaram-se a meu desinteresse pela temática e não me empolgaram. Porém, como afirmei anteriormente, trata-se de uma questão de gosto. Pode ser que você assista e tenha opinião diferente!

Foto: www.abroadwayeaqui.com.br

Foto: www.sproad.com.br

A história se passa na década de 30 e mostra um paciente sendo internado em um hospital psiquiátrico. O homem se apresenta como Miguel de Cervantes e está acompanhado de outro que seria seu fiel criado, Sancho. Destituído de seus pertences pelos outros loucos do hospital, Cervantes solicita apenas que lhe devolvam o manuscrito de uma peça de teatro de sua autoria. Para lhe dar uma oportunidade de ter seu pedido atendido, o líder dos loucos, denominado "Governador", realiza um julgamento no qual Cervantes, o réu, organiza sua defesa convidando os demais internos a encenar com ele sua peça de teatro. A "peça dentro da peça" nada mais é do que a história de D. Quixote de La Mancha, o Cavaleiro Errante que luta contra os males da humanidade.

Foto: www.blogdofranciscolimma.blogspot.com

A montagem, notadamente os figurinos do protagonista, foram assumidamente inspirados na obra do artista sergipano Arthur Bispo do Rosário (1909/11-1989), um homem simples que teve várias profissões, sofreu um surto psicótico em 1938 e, diagnosticado como esquizofrênico-paranoico, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá - RJ. Bispo do Rosário ficou internado por cerca de cinquenta anos e começou a criar seus trabalhos artísticos apenas no final da década de 60 , produzindo, até sua morte, cerca de mil obras usando objetos do cotidiano que comprava ou trocava e sobras de materiais descartadas pelo próprio hospital. Porém, não se considerava artista. Dizia apenas ter recebido a missão de fazer um "inventário do mundo", para que, quando morresse, pudesse entregá-lo reconstruído a Deus. Foi descoberto em 1980 por Samuel Wainer Filho, que mostrou sua produção em uma reportagem do 'Fantástico', da Rede Globo. Veja algumas imagens de sua obra aqui, expostas na 30ª Bienal de Arte de São Paulo.

O figurino de D. Quixote, claramente inspirado em peças criadas por Arthur Bispo do Rosário.
Foto: www.alvareezcomz.blogspot.com

Quer conferir? O HOMEM DE LA MANCHA está em cartaz no Teatro do Sesi – Av. Paulista, 1313 – Bela Vista – São Paulo. Apresentações de quartas a sextas-feiras às 21h, aos sábados às 17h e às 21h, e domingos às 15h e às 19h. Entrada franca. Até 28/6.

Mas atenção: para adquirir seus ingressos, você precisa se cadastrar e reservar aqui: www.sesisp.org.br/meu-sesi. Para apresentações entre os dias 1º e 15 do mês, as reservas são liberadas no dia 25 do mês anterior, a partir das 8h. Para apresentações entre os dias 16 e 31 do mês, as reservas são liberadas no dia 10 do mesmo mês, a partir das 8h. Ingressos remanescentes são distribuídos nos dias das apresentações, a partir do horário de abertura da bilheteria (de quarta a sábado, das 13h às 21h, e domingos, das 11h às 19h30).

Ficha técnica parcial

Elenco: Cleto Baccic, Sara Sarres, Guilherme Sant'Anna, Jorge Maya e outros.
Direção e versão: Miguel Falabella
Texto: Dale Wasserman
Músicas: Mitch Leigh
Direção Cênica: Floriano Nogueira
Direção Musical: Carlos Bauzys
Coreografia: Kátia Barros
Cenografia: Matthew Kinley
Designer de Som: Gabriel D'Angelo