domingo, 26 de julho de 2015

'Portinari e a Poética da Modernidade Brasileira': um tesouro a ser descoberto.

No sábado passado fui ver a exposição 'Portinari e a Poética da Modernidade Brasileira', na Galeria Almeida e Dale, nos Jardins, e notei que quase não havia visitantes. Perguntei-me como a mostra de um artista da categoria de Portinari (1903-1962), com 35 obras de alto nível e ainda por cima com entrada franca, poderia estar vazia. Ainda mais se levarmos em conta que todas as obras expostas pertencem a coleções particulares, longe dos olhos do público, e essa é uma rara oportunidade para contemplá-las. Estão lá pinturas do acervo de importantes colecionadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza e de instituições como a Coleção Roberto Marinho.

Quando cheguei, um grupo de pessoas estava saindo e ninguém mais entrou. Ou seja: nos quase 60 minutos em que lá permaneci tive todo o espaço da ampla galeria só para mim, com suas três salas de exibição e 35 magníficas pinturas de Portinari a meus pés, para meu completo deleite e fruição.

A galeria vazia... Em primeiro  plano, está a exuberante e icônica obra 'Flora e Fauna Brasileira', de 1934.
Óleo s/ madeira - Coleção Roberto Marinho - RJ - foto: Simone Catto

Outro ângulo da galeria que era "só minha". Em primeiro plano, as obras 'Jangada e Carcaça' e 'Bois e Espantalho', ambas de 1940, nas quais o artista retrata o drama da seca em cores escaldantes. Foto: Simone Catto

É realmente uma delícia apreciar obras de arte em um espaço vazio, mas, por outro lado, pergunto-me por que a exposição não estava lotada. Não creio que seja por falta de divulgação, pois a mostra consta nos roteiros culturais de jornais e revistas, inclusive com matérias e notas explicativas. Será falta de hábito da população de visitar galerias? Será que as mesmas pessoas que visitam exposições como a de Kandinsky, no CCBB, ou a de Miró, no Instituto Tomie Ohtake, sentem-se intimidadas em entrar numa galeria de arte? Francamente, não sei.

Só sei que a mostra de Portinari está excelente e é uma pena que o público apreciador de arte ainda não a tenha descoberto. Com curadoria de Denise Mattar, ela abrange obras do período de 1931 a 1944 do mestre, momento em que ele surge na cena modernista e se consolida como o maior pintor brasileiro.

Além das belas obras mostradas, a exposição tem providenciais textos explicativos em uma vitrine de vidro onde são explicadas, de forma clara e didática, todas as fases da vida do mestre. Não vou me ater a cada uma delas para não me alongar muito, mas posso dizer que o talento de Portinari para o desenho se revelou muito cedo. Com apenas 10 anos de idade, ele pintou um retrato do compositor Carlos Gomes que impressiona pela técnica e precisão.

Ao centro, a vitrine com textos explicativos da vida do artista, acompanhados de imagens - Foto: Simone Catto

Retrato de Carlos Gomes (1913) - nem parece que foi feito por uma criança!
Foto: Simone Catto

Em 1919, Portinari ingressou no Liceu de Artes e Ofícios e na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. A partir dali, sua técnica deslanchou. O artista participou de diversas exposições, ganhou uma viagem à Europa como prêmio e retornou ao Brasil em 1931, casado com Maria Victoria Martinelli, uma uruguaia de 19 anos que conheceu em Paris e que seria sua companheira por toda a vida. Nesse mesmo ano, ele participou do 'Salão Revolucionário', que iria marcá-lo como um pintor moderno.

Tudo começou quando, em 1931, o arquiteto Lúcio Costa foi indicado como diretor da Escola Nacional de Belas-Artes (ENBA), no Rio de Janeiro. Jovem e cheio de ideias, ele quis mudar a estrutura do Salão realizado pela escola todos os anos e convidou uma turma "da pesada" para compor a Comissão Organizadora: Portinari, Manuel Bandeira, Anita Malfatti e Celso Antônio. Entre os expositores, estavam todos os modernistas: Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti, entre outros, além do próprio Portinari, que expôs 17 obras. Conclusão: a XXXVIII Exposição Geral de Belas-Artes chocou a ultraconservadora escola e Lúcio Costa foi demitido. Daí essa mostra ficar conhecida como 'Salão Revolucionário' foi um passo. Foi lá que Portinari surgiu como um artista moderno, chamando a atenção de Mário de Andrade, que pediu para ser apresentado a ele. Esse encontro do pintor com o escritor muito contribuiu para que Portinari resolvesse retratar o brasileiro em suas obras, e os dois homens tornaram-se amigos para sempre.

A pintura abaixo, O Violinista (1931), foi considerada por Mário de Andrade a melhor obra do Salão Revolucionário de 1931.

'O Violinista' (1931) - coleção particular - RJ - Foto: Divulgação/Galeria Almeida e Dale

Esta obra também foi exibida no Salão Revolucionário: 'Retrato do Maestro Oscar
Lorenzo Fernández'
(1931) - óleo s/ tela - coleção particular - RJ - Foto: Simone Catto
  
Flora e Fauna Brasileira (1934) - óleo s/ madeira - Coleção Roberto Marinho - RJ. Pura exuberância!
Foto: Simone Catto

As obras abaixo, Flautista e Domingo no Morro, marcam o momento em que o artista começa a retratar o povo brasileiro.

'Flautista' (1934) - óleo s/ madeira - coleção particular - RJ - Foto: Simone Catto

'Domingo no Morro' (1935) - óleo s/ tela - coleção particular - SP - Foto: Simone Catto

'Mulher e Criança' (1936) - óleo s/ tela - Coleção Ronaldo Cezar Coelho - SP
Foto: Simone Catto

'Jangadas' (1939) - óleo s/ tela - coleção particular - SP - Foto: Simone Catto

João Candido, filho de Portinari e Maria, nasceu em 1939 - Foto: Simone Catto

Após expôr no Salão Revolucionário, Portinari trabalhou, lecionou e participou de mais exposições, inclusive internacionais. Em 8 de outubro de 1940, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) inaugurou a exposição 'Portinari of Brazil' com 186 obras do mestre, incluindo telas que ele havia exibido em agosto do mesmo ano no Instituto de Artes de Detroit. Detalhe importante: Portinari foi o segundo artista estrangeiro convidado a expor no MoMA após Picasso.

Essa mostra foi posteriormente desmembrada em exposições itinerantes que percorreram diversas cidades americanas até 1942. Na ocasião, Edward Allen Jewell, do New York Times, afirmou: "Portinari é um pintor perfeito, muitas vezes brilhante, muitas vezes impressionantemente poderoso…" Na mesma época, a Universidade de Chicago editou o álbum 'Portinari, his Life and Art' e o artista realizou uma exposição individual na Universidade de Howard, Washington.

A obra a seguir, As Moças de Arcozelo (1940), ilustrou a capa do catálogo da exposição 'Portinari of Brazil', no MoMA, em 1940.

'As Moças de Arcozelo' (1940) - óleo s/ tela - coleção Marcos Ribeiro Simon - SP - Foto: Simone Catto

'Três Figuras Femininas' (1940) - óleo s/ tela - coleção particular - CE - Foto: Simone Catto

Na obra 'O Enterro' (1940), um retrato cru do drama da seca, agora em tons lúgubres. Óleo s/ tela - coleção Jones Bergamin - RJ. Foto: Simone Catto

As pinturas abaixo são líricas reminiscências da cidade natal do artista, Brodowski, em São Paulo.

'Meninos soltando Pipas' (1941) - óleo s/ tela - coleção particular - SP - Foto: Simone Catto

'Brodowski' (1942) - óleo s/ tela - Coleção Roberto Marinho - RJ - Foto: Simone Catto

Em1944, foi realizada a Exposição de Arte Moderna, última grande mostra do Modernismo brasileiro. Organizada por Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, ela reuniu, entre outros, os artistas da Semana de 22, do Grupo Santa Helena, do Núcleo Bernardelli e os então iniciantes Iberê Camargo, Milton Dacosta e Scliar. O objetivo era apresentar o complexo arquitetônico da Pampulha, projeto de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, para o qual Portinari fez os azulejos externos e o mural interno da Igreja São Francisco de Assis.

Nesse evento, que mobilizou toda a sociedade mineira, Portinari apresentou seu trabalho O Olho, conhecido como O Galo, causando furor na imprensa e dividindo a cidade entre os "contra" e os "a favor" da obra. Um pouco antes da mostra ser encerrada, oito trabalhos foram cortados a gilete, mas O Galo foi poupado para cantar em outras freguesias. 

A essa altura, Portinari já era um mito. Além de ser considerado o maior artista brasileiro, também tinha conquistado grande reconhecimento no exterior.

A obra que causou escândalo em MInas: O Olho (1944) - óleo s/ tela
Foto: divulgação/Galeria Almeida e Dale)

Após a Exposição de Arte Moderna, Portinari voltou a expor no MoMA, em NY, fez uma exposição em Paris e foi condecorado com a Legião de Honra do governo francês. Devido à perseguição aos comunistas no Brasil, em 1947 se exilou voluntariamente no Uruguai, onde sua família foi encontrá-lo posteriormente. Continuou trabalhando naquele país e retornou ao Brasil em 1949, sempre produzindo intensamente, expondo seu trabalho e sendo reconhecido. O artista inclusive participou da I Bienal de São Paulo, no ano de 1951.

Em meados da década de 50, o mestre infelizmente já estava doente devido ao chumbo presente nas tintas que utilizava e, por determinação médica, ficou um tempo sem pintar. Em 1955, executou os famosos painéis Guerra e Paz, presente do governo brasileiro para a ONU, em Nova York.

Autorretrato (1956) - óleo s/ madeira compensada - coleção particular - SP
Foto: Simone Catto

O fato é que, apesar das recomendações médicas, Portinari nunca parou de trabalhar, vindo a falecer em 6 de fevereiro de 1962, intoxicado pelos metais pesados contidos nas tintas.

Segundo a curadora da exposição, Denise Mattar, "Portinari soube criar um repertório iconográfico nacional a partir de elementos reais e sem exotismos. Inventou uma estética brasileira que fazia conviver a poesia e a contundência da denúncia. E conseguiu aliar essa temática à sua habilidade de exímio artífice, encontrando soluções técnicas sofisticadas e inovadoras."

Você ainda não viu a exposição? Corra! 'PORTINARI E A POÉTICA DA MODERNIDADE BRASILEIRA' fica até 15/8 na Galeria Almeida e Dale, com entrada franca. Rua Caconde, 152 - São Paulo – Tel.: (11) 3882-7120 - www.almeidaedale.com.br

domingo, 12 de julho de 2015

Mostra 'Kandinsky: tudo começa num ponto'. Quando a arte encontra o espírito.

Não pensei que seria tão tranquilo visitar a exposição ‘Kandinsky: tudo começa num ponto’, no Centro Cultural Banco do Brasil – SP, já que a mostra acaba de ser inaugurada e tem tudo para ser uma daquelas com filas que dão voltas no quarteirão. Estive no CCBB na manhã de sábado, com uma amiga que já havia reservado o horário de nossa visita em um aplicativo gratuito de celular disponibilizado pelo próprio CCBB em parceria com a Ingresso Rápido. Havia algumas filas, mas nem chegamos a ficar paradas em alguma. Entramos logo.

Foto: Simone Catto

W. Kandinsky - 'Dois Ovais' (1919) - óleo s/ tela - Museu Estatal Russo
Foto: Simone Catto

W. Kandinsky - 'Improvisação' (1913) - óleo, aquarela e guache s/ cartão - Galeria Estatal de Primorsk, Vladivostok, Rússia - Foto: Simone Catto

Segundo o idealizador da mostra, o cubano Rodolpho de Athayde, essa é a maior exposição sobre Wassily Kandinsky (1866-1944) que a América Latina possivelmente já viu. São mais de 150 obras no total, incluindo peças de artistas contemporâneos seus e de outros que o influenciaram, tais como pinturas, xilogravuras, desenhos, porcelanas, objetos do folclore russo e até objetos ritualísticos xamânicos. Não foi fácil montar a exposição. Primeiro, porque ela abrange todas as fases artísticas de Kandinsky, e também porque suas obras mais significativas estavam espalhadas por vários países da Europa. Foram necessários três anos para reunir o acervo que veio para o Brasil, com peças pertencentes ao Museu Estatal Russo de São Petersburgo, de outros nove museus também russos e de cinco coleções particulares da Alemanha, Áustria, França e Inglaterra.

W. Kandinsky - 'Igreja em Murnau, estudo' (c.1908) - óleo e têmpera s/ cartão
Museu Estatal de Artes Plásticas Mikhail Brubel - Foto: Simone Catto

W. Kandinsky - 'Murnau, paisagem estival' (1909) - óleo s/ cartão - Museu Estatal Russo
Foto: Simone Catto

Embora eu já tenha apreciado obras de Kandinsky em museus de arte moderna internacionais, ainda não estive na Rússia, e foi muito bom tomar contato com trabalhos inéditos para mim. Algumas salas do CCBB estavam bem cheias, mas nada que nos atrapalhasse. Valeu muito a pena contemplar de perto o trabalho desse que é considerado o primeiro pintor abstrato do mundo, com obras que são conhecidas por um colorido tão exuberante que chega a ofuscar a vista. Em suas pinturas abstratas, formas geométricas se entrelaçam com linhas e elementos gráficos, alguns lembrando vagamente formas conhecidas, resultando em uma explosão de cor repleta de simbologias.

W. Kandinsky - 'Improvisação 11' (1910) - óleo s/ tela - Museu Estatal Russo - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Pintor, gravador, escritor, teórico e entalhador, Kandinsky nasceu na Rússia, mas posteriormente adotou as pátrias alemã e francesa. Começou a pintar relativamente tarde, por volta dos 30 anos, e no princípio seus temas eram figurativos, sobretudo paisagens coloridas inspiradas na arte popular russa. Em determinado momento, o artista teve contato com povos nativos da Sibéria e da Mongólia e ficou vivamente impressionado com as práticas ritualísticas e religiosas dessas populações, inclusive o xamanismo, o que muito contribuiu para que, no decorrer da vida, ele se voltasse cada vez mais para o aspecto espiritual da arte. Esse encontro entre arte e espiritualidade foi se fortalecendo gradativamente, atingindo seu ápice na pintura abstrata, na qual Kandinsky pretendeu retratar estados de alma – uma proposta que, vale notar, está muito próxima daquela dos pintores simbolistas europeus do período.

As duas obras a seguir, pintadas sobre vidro, são inspiradas em contos de fadas.

W. Kandinsky - 'Nuvem dourada' (1918) - óleo s/ vidro - Museu Estatal Russo - Foto: Simone Catto

W. Kandinsky - 'Amazona nas montanhas' (1918) - óleo s/ vidro - Museu Estatal Russo
Foto: Simone Catto

Um outro aspecto interessante da obra de Kandinsky é a associação de determinadas pinturas com sons musicais. O artista era extremamente sensível a qualquer manifestação do mundo exterior, e a música não só não escapou a seus sentidos como estava presente em algumas pinturas nas quais ele tentou expressar sons por meio de imagens. Curiosamente, essa semana mesmo li uma matéria sobre pessoas sinestésicas, isto é, aquelas nas quais os estímulos que impactam um dos cinco sentidos também impactam a um outro, como se houvesse um tipo de interferência entre os dois. No caso de Kandinsky, essa interferência se daria entre a visão e a audição, por exemplo. A esse propósito, é notória sua amizade com o revolucionário compositor austríaco Arnold Schoenberg, criador da música atonal e dodecafônica, que exerceu grande influência sobre ele. 

O fato é que a vida e a produção artística de Kandinsky são extremamente ricas e, certamente, uma exposição só não basta para conhecermos a atividade do mestre. Uma dica é comprar o catálogo da mostra, à venda na loja do CCBB por R$ 100,00. O preço é meio salgado, mas vale a pena – o livro de capa dura tem uma edição caprichadíssima, textos explicativos muito bem elaborados sobre Kandinsky e os outros artistas presentes na mostra e é ilustrado com excelentes fotos das obras expostas.

W. Kandinsky - 'Improvisação 4' (1909) - óleo s/ tela - Museu Estatal de Artes de Nyzhny Novgorod
Foto: Simone Catto

W. Kandinsky - 'Improvisação 34' (1913) - óleo s/ tela - Museu Estatal da República de Tartastan, Kazan, Rússia - Foto: Simone Catto

Você ainda não conhece o trabalho de Kandinsky? Dê um pulo no CCBB! Além de apreciar as obras do "Pai do Abstracionismo", você também vai gostar das outras pinturas expostas lá, de autoria de artistas contemporâneos do mestre. E depois, aproveite para tomar um espresso no Cafezal, a charmosa cafeteria local. O café de lá é excelente, o atendimento é bom e o pão de queijo também é uma delícia! Veja fotos do Cafezal aqui.

'KANDINSKY: TUDO COMEÇA NUM PONTO' – Centro Cultural Banco do Brasil – R. Álvares Penteado, 112 – Centro. Tel.: (11) 3113-3651/3652. Vá de metrô, que é muito mais prático - a estação São Bento é pertinho. O CCBB abre de quarta a segunda-feira, das 9h às 21h, com entrada franca. Recomendo marcar a hora de sua visita pelo site www.ingressorapido.com.br, disponível também em aplicativo para celulares.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

São Bento do Sapucaí. Fragmentos de uma natureza que hipnotiza.

No último post que publiquei aqui no PENEIRA, falei sobre São Bento do Sapucaí – SP, na região da Serra da Mantiqueira, mas abordei somente atrações urbanas dessa cidadezinha pacata, charmosa e com uma paisagem exuberante.

Aqui, portanto, vou falar um pouquinho da natureza de São Bento e de como a gente pode desfrutar essa maravilha, embora minha curta permanência na cidade em minha última visita ainda não me tenha permitido explorar a natureza do jeito que eu gostaria.

Vamos lá. O principal cartão postal de São Bento é, indiscutivelmente, a bela e onipresente Pedra do Baú, uma formação rochosa com 350 metros de altura a 2 mil metros acima do nível do mar. Muita gente pensa que a Pedra do Baú pertence a Campos do Jordão, mas não. Ela está dentro do município de São Bento, mesmo, para alegria e orgulho de seus habitantes.

A Pedra do Baú e, menorzinha, à sua esquerda, o 'Bauzinho' - Foto: www.camposdojordao.com.br

A trilha para o topo da Pedra do Baú leva mais ou menos uma hora e meia de caminhada na mata, depois há uma escada com 600 degraus e, por fim, vergalhões encravados nas paredes da rocha para escalada. Esta última parte é para quem tem fôlego e alguma experiência em montanhismo, pois não é nada fácil. Por medida de segurança, a trilha é recomendável somente até as 14 horas. De qualquer forma, mesmo que você não percorra todo o trajeto, é melhor ir acompanhado de um guia capacitado. Não tive o prazer de subir a Pedra do Baú ainda, mas espero ter em breve. A vista lá do alto deve ser um desbunde!

Aqui a Pedra do Baú emoldura a singela capelinha! - Foto: Simone Catto

Após subirmos por uma  pequena estrada, chegamos à base da pedra, onde há um restaurante arejado e com uma bela vista.
Foto: Simone Catto

A vista a partir do deck do restaurante da Pedra do Baú - Foto: Simone Catto

E aqui, um aventureiro sentado bem na pontinha da Pedra do Baú, com o Bauzinho à frente e o mundo a seus pés!!!
Foto: www.boulevardgeneve.com.br

Na subida da Serra do Baú, deparei com a Cachoeira do Toldi, uma queda d’água de mais de 70 metros. Não dá para chegar perto, mas sempre vale uma espiadinha.

Cachoeira do Toldi - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

Em minhas andanças por São Bento também tive o prazer de passar pelo Paiol Grande, um acampamento juvenil que traz ótimas memórias de minha infância. O que eu mais gostava de fazer era patinar à noite, num grande ginásio com espelhos. Delícia!

A entrada do Paiol Grande, o acampamento de férias que traz ótimas lembranças de minha infância - Foto: Simone Catto

O complexo da Pedra do Baú inclui as pedras do Bauzinho e Ana Chata. Localizada a 1.700 metros do nível do mar, a Bauzinho é aquela pedra menor que a gente avista ao longe, bem ao lado da Pedra do Baú. Uma irmãzinha caçula, por assim dizer. A trilha dessa pedra é bem mais leve, percorrida em apenas dez minutos de caminhada, mas também proporciona uma linda vista. A prima Ana Chata fica um pouco mais afastada das outras duas.

A família reunida: a Pedra do Baú reina no centro, bela e majestosa, à esquerda temos o Bauzinho e, mais longe, à direita,
está a Ana Chata - Foto: www.boulevardgeneve.com.br

Além das trilhas com paisagens de tirar o fôlego, a região da Pedra do Baú é muito procurada por praticantes de esportes radicais e também tem uma rampa de voo livre.

A partir do início de 2015, a Prefeitura de São Bento do Sapucaí, junto a outras entidades preocupadas com a preservação ambiental, passaram a adotar uma série de medidas para proteger o ecossistema local. Para começar, o acesso de veículos foi proibido a partir da entrada da Fundação Pedra do Baú, no km 3,4, mas há uma área reservada para estacionamento. A partir dessa área, o acesso ao Complexo é feito somente a pé. São 1.200 metros de caminhada por uma estrada de terra batida, com algumas subidas. Além disso, foi implantada uma base operacional com atendimento de monitores nos finais de semana e feriados e passou a ser cobrada uma Taxa de Preservação e Compensação Ambiental com diferentes valores, dependendo do porte e finalidade do veículo. Importante: não há toaletes no local, portanto, previna-se! Achei interessantes essas medidas como forma de preservar a natureza exuberante do local, uma verdadeira obra de arte esculpida por Deus!

Aqui está apenas uma pequena (mas muito pequena mesmo!) amostra das belezas naturais que você vai encontrar em São Bento do Sapucaí. Eu mal posso esperar para descobrir mais!

domingo, 5 de julho de 2015

São Bento do Sapucaí. Um mosaico de paz, beleza e deleite.

Perdi a conta de quanto tempo fazia que eu não visitava São Bento do Sapucaí. Como andei uns dias para os lados da Serra da Mantiqueira com alguém que também gosta de conhecer novos lugares, tive um tempo para explorar um pouco esse encantador município paulista com jeitinho de Minas Gerais.

Vista com a Pedra do Baú ao longe, o principal cartão postal de São Bento do Sapucaí - Foto: Simone Catto

De cara, ao chegar, me surpreendi com a quietude, a paz e o encanto de uma cidadezinha do interior que, ao que tudo indica, é muito amada por seus habitantes. Para começar, as ruas são limpinhas. As casas são bem conservadas - percebe-se que os moradores cuidam delas com carinho. Aliás, há muitas casinhas antigas, daquelas com jeito de vovó, com pintura impecável, muitas plantas e lindas roseiras no jardim. Isso só para falar da parte urbana dessa cidade que é mais conhecida por sua paisagem deslumbrante, com destaque para a Pedra do Baú, o Bauzinho e a Ana Chata – todas formações rochosas que são cartões postais de São Bento do Sapucaí. Mas isso é assunto para outro post!

 A Praça General Marcondes Salgado (Centro), onde se localiza a Igreja do Rosário, é uma delícia!
Foto: Simone Catto

Ainda na praça da Igreja do Rosário, deparamos com esta linda casa antiga, super bem cuidada - note o capricho da pintura! Foto: Simone Catto

Um amigo havia comentado sobre um lugar muito agradável chamado Armazém São Bento e resolvemos conferir. Misto de café, armazém, restaurante e loja de artesanato, o local é mesmo muito gostoso e prioriza os alimentos regionais, valorizando os pequenos produtores e incentivando a cultura local. Pedimos um café e então conhecemos o Crésio, um jovem agradável com uma ótima conversa. De início, pensei que ele fosse um garçom da casa, mas ele logo explicou que é estudante de arte e a proprietária o contratou em alguns fins de semana para entreter os clientes e contar um pouco da história local. Aquele era seu primeiro dia de trabalho. Então Crésio nos contou que a cidade é repleta de capelas porque a população de forma geral é bem religiosa e muita gente mandou construir capelinhas inclusive em propriedades particulares. Quando comentei sobre a excelente conservação da cidade, pensando se tratar de um cuidado da Prefeitura, Crésio logo esclareceu que a conservação das construções era obra da própria população local mesmo, que tem a consciência e a iniciativa de preservá-las. Os herdeiros de prédios históricos e casas antigas cuidam desse patrimônio, o que me deixou muito feliz, já que é raro esse tipo de consciência entre os brasileiros. A própria construção que abriga o Armazém São Bento é bem antiga, pertence a uma família local e está instalada em um terreno que inclui a Pousada Casarão.

A bela fachada antiga do Armazém São Bento - Foto: Simone Catto

A mesinha onde tomamos nosso café... - Foto: Simone Catto

O armazém é alegre e colorido, um lugar gostoso de estar - Foto: Simone Catto

O único "senão" foi em relação ao café de coador, que estava meio frio. A casa também servia o espresso, mas, como estávamos no interior e café "que lembra vovó" é tudo de bom, optamos pelo caseiro. Portanto, o pessoal precisa ficar atento à temperatura da bebida, um detalhe fácil de corrigir, mas fundamental para que o cliente tenha uma experiência positiva. No mais, o lugar é uma delícia e foi muito bom trocar ideias com o Crésio. 

E já que mencionei a religiosidade do povo de São Bento, vale a pena conhecer o maravilhoso trabalho da Capela de Mosaico Santa Cruz, criada pelo artista plástico Ângelo Milani e sua esposa Claudia Villar. Ninguém sabe ao certo, mas consta que a capela remonta ao início do século XX e que, inicialmente, possuía apenas uma escultura do Cristo sobre o altar, de autoria anônima, doada pelo Padre Pedro, pároco da cidade por mais de quarenta anos.

Fachada da capelinha de mosaico - Foto: Simone Catto

Em 2008, Ângelo Milani reformou a capela e teve a ideia de ornamentar a fachada com mosaicos. Sua esposa Claudia se encarregou da decoração do interior e utilizou mosaicos que haviam sido concebidos, originalmente, para uma instalação realizada em 2005 na Capela do Morumbi, em São Paulo.

O festivo interior da capela com seus belos detalhes em mosaico - Foto: Simone Catto

O material utilizado nos mosaicos é muito interessante. São cacos de xícaras, bules e outras louças de porcelana, fragmentos de estátuas de santos abandonados por fieis em diversas igrejas, contas coloridas e pedaços de vidros e azulejos, entre outros materiais. Todo o espaço interior foi preenchido, inclusive com pequenas peças produzidas por crianças em oficinas de criação.

Foto: Simone Catto

Achei lindo esse medalhão colorido aos pés do altar! - Foto: Simone Catto

Foto: Simone Catto

A casa do artista fica ao lado da capela e, ao que tudo indica, foi construída com a mesma criatividade!

Lateral da casa do artista Ângelo Milani - Foto: Simone Catto

Detalhe da casa do artista - Foto: Simone Catto

O resultado dessa obra ficou tão lindo que inspirou outros artistas da região na arte do mosaico e também gerou outros "filhos" de Ângelo Milani pela cidade: ele tem o projeto de construir mais capelas de mosaico e inclusive tivemos o prazer de encontrar uma delas, já pronta!

A lateral de outra capelinha de Ângelo Milani, com o mesmo belo trabalho em mosaico - Foto: Simone Catto

Fachada de outra capela de Ângelo Milani - Foto: Simone Catto

E não é que achei "ELA" lá? É sempre um prazer encontrá-la, Santa Rita!! - Foto: Simone Catto

Detalhe curioso da outra capela: a asa de uma peça de porcelana! - Foto: Simone Catto

Além dos mosaicos que fazem a fama da cidade, São Bento do Sapucaí também tem tradição em outros tipos de artesanato. No Bairro do Quilombo, vale a pena conhecer o espaço Arte no Quilombo, comandado por uma associação que divulga e expõe peças de mais de 80 artesãos locais. São trabalhos em palha de bananeira, palha de milho, bambu, madeira, barro e tecido, entre outros. Há de tudo para todos os gostos!  

O galpão onde está instalado o espaço Arte no Quilombo, com grande variedade de peças de artesanato local.
Foto: Simone Catto

O lugar é mesmo uma festa para os olhos! - Foto: Simone Catto

E não é que na parte externa da Arte no Quilombo, na área do estacionamento, deparei-me com essa singela capelinha de terra batida? Linda em toda a sua simplicidade, ela atesta mais uma vez a religiosidade dos habitantes da cidade, que sempre encontram uma maneira de manifestar sua fé. Muito fofa!

Capelinha no espaço externo da Arte no Quilombo - Foto: Simone Catto

Tenho certeza que, se você visitar São Bento, vai descobrir muitas outras coisas! 

Informações para sua visita:

ARMAZÉM SÃO BENTO: R. Abade Pedrosa, 88.  Tel.: (12) 99638-3130. Horários: de quinta a sábado e feriados das 9h às 20h, e domingos das 9h às 18h. De sexta a domingo serve um almoço vegetariano com buffet de saladas, pastas, pão, prato quente, suco e sobremesa por R$ 25,00. 

CAPELA DE MOSAICO SANTA CRUZ: R. 13 de Maio, 217 – Centro. Horário de visitação: sábados, domingos e feriados, das 8h às 18 h.

ARTE NO QUILOMBO: Estrada Vereador Benedito Cândido Pinheiro, S/N – Bairro do Quilombo. Tel.: (12) 3971-2669 – www.artenoquilombo.com.br. De terça a domingo, das 10h às 18h.

ATELIÊ DITINHO JOANA: Rua Projetada, 42 – Bairro do Quilombo – Tel.: (12) 3971-2579 – www.atelieditinhojoana.com.br.