terça-feira, 3 de novembro de 2015

39ª Mostra Internacional de Cinema exibe 'Meu Único Amor' e acerta no coração.

A cada ano que passa, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo fica melhor. A 39ª edição, que começou no dia 22 de outubro e vai até amanhã, 4 de novembro, está exibindo mais de 300 títulos de 62 países em 22 endereços, entre cinemas, espaços culturais e museus da cidade de São Paulo. São tantos filmes e endereços que os cinéfilos mais assíduos devem ficar até angustiados. Para quem ainda dispõe de um tempo para assistir às últimas sessões, é uma ótima oportunidade para saber o que o mundo anda criando nas telonas.

Um dos destaques deste ano é a série de projeções ao ar livre de filmes clássicos e restaurados com apoio da 'The Film Foundation' e entrada franca. Na noite de sábado, dia 31/10, tive o privilégio de assistir a uma deliciosa comédia romântica projetada na gigantesca parede externa dos fundos do Auditório Ibirapuera: 'Meu Único Amor'. Lançado em 1927, o filme tem como protagonistas a graciosa musa do cinema mudo e também produtora Mary Pickford (1892-1979) e o doce galã Charles "Buddy" Rogers (1904-1999), que também foi um bem-sucedido músico de jazz. A projeção foi valorizada pelo acompanhamento musical ao vivo da Orquestra Sinfônica Heliópolis, sob regência do maestro David Michael Frank, que também compôs a trilha sonora especialmente para o filme, em 1999, a pedido da Fundação Mary Pickford.

Charles "Buddy" Rogers e Mary Pickford, a dupla romântica fofa do filme.

Na película, baseada em uma história da escritora americana Kathleen Norris, Mary Pickford interpreta Maggie, uma jovem que se divide entre o trabalho de estoquista em uma loja de departamentos e os cuidados com a família meio amalucada. Quando conhece Joe (Charles "Buddy" Rodgers), novo funcionário de seu departamento, se apaixona sem saber que ele é, na verdade, filho do milionário dono do estabelecimento. O rapaz foi desafiado pelo pai a trabalhar na loja e conseguir uma promoção por mérito, sem fazer uso do sobrenome, para que depois pudesse anunciar seu noivado com a socialite Millicent.

O mocinho galante e a graciosa "Maggie" de Mary Pickford.

Essa cena  é antológica. No horário do almoço da loja onde trabalham, o mocinho rico divide um lanche com a mocinha que
 pensa que ele é pobre, espremido dentro de um caixote.

A maior graça do filme é o seu humor ingênuo e, ao mesmo tempo, sutil e encantador. A história de amor é como aquelas que praticamente não existem mais hoje em dia, por retratar sentimentos absolutamente puros e verdadeiros. Mary Pickford, uma bonequinha com grandes olhos e uma boca minúscula em formato de coração, é um poço de expressividade. O galã é um verdadeiro lord, bonito, pueril e de bom coração. Enfim, trata-se de um daqueles filmes que transmitem um tremendo bem-estar. Para completar, o espaço externo do Auditório Ibirapuera lotou de famílias, casais e grupos de amigos que foram curtir aquele programa inusitado e interessante para uma noite de sábado. Muitos levaram um lanchinho e, quando eu estava chegando, vi até um casal com duas crianças carregando uma pizza (rs)! Ao final da exibição, topei com umas moças saboreando Prosecco – por pouco não me juntei a elas!! (rs). Nem pipoca faltou – comprei uma pipoca doce fresquinha de uma moça que vendia saquinhos de pipoca num tabuleiro. Havia algumas cadeiras disponíveis para o pessoal da terceira idade e o espaço foi civilizadamente respeitado. Pareceu-me que o nível do público que assistia era muito bom, e imagino que devia ser composto por cinéfilos, estudantes de cinema, gente com um bom nível cultural. Tudo de bom!


A película foi um dos maiores sucessos da carreira de Mary Pickford e sua despedida do cinema mudo, além de ter sido, também, a primeira parceria dela com o diretor Sam Taylor, com quem faria a maior parte de seus filmes falados dali para a frente. Curiosidade: a atriz com boca de coração foi casada com o galã Charles "Buddy" Rogers, 12 anos mais novo, de 1937 até sua morte, em 1979. Rogers foi seu terceiro marido.

A restauração do filme foi feita pelo Arquivo de Cinema e Televisão da UCLA (Universidade da Califórnia, Los Angeles), com financiamento de Fundação Mary Pickford, Instituto de Humanidades Packard e The Film Foundation.

A curadoria e a organização da 39ª Mostra Internacional de Cinema estão de parabéns por uma iniciativa tão democrática e de alto nível. Apaixonei!
  
Ficha técnica parcial

Direção: Sam Taylor
Roteiro: Hope Loring, Allen McNeil, Tim Whelan, Clarence Henneckef
Fotografia: Charles Rosher
Música: David Michael Frank
Elenco: Mary Pickford, Charles "Buddy" Rogers e outros
Produção: Mary Pickford Corp. / United Artists

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