domingo, 31 de janeiro de 2016

'Carol': uma mulher, outra mulher, uma paixão, um belo filme.

Uma mulher que se apaixona por outra mulher. Atualmente, a mídia, o cinema, as artes e os movimentos pelos direitos civis abordam abertamente esse tema que, no entanto, ainda permanece tabu para muita gente. Porém, se voltarmos umas seis décadas atrás, lá nos anos 50, essa temática provavelmente seria motivo de escândalo onde quer que aparecesse – na vida ou numa tela de cinema. É justamente essa década, e essa situação, que são retratadas no filme 'Carol', dirigido por Todd Haynes e baseado no livro 'The Price of Salt', que Patrícia Highsmith lançou em 1952 sob o pseudônimo de Claire Morgan.

Atualmente em cartaz nas salas de São Paulo, o filme é plasticamente muito bonito. O figurino daquela daquela época, com seus chapéus e casados de pele, os penteados das mulheres, os carrões conversíveis, as residências elegantes de Nova York, as paisagens, enfim, a estética do filme é impecável – e ainda por cima, regada a muitas doses de champanhe. Sim, vira e mexe, as protagonistas aparecem com flûtes nas mãos.

A dupla central de atrizes, a diva Cate Blanchett e a jovem Rooney Mara, esta de uma beleza fria e clássica, interpretam Carol Aird e Therese Belivet, respectivamente. Carol é uma mulher de meia-idade sofisticadíssima que está prestes a se divorciar de um banqueiro e tem uma filha pequena. Therese é a jovem balconista da sessão de brinquedos de uma loja de departamentos e aspirante a fotógrafa. Um dia, Carol dirige-se à loja para comprar um brinquedo e vê Therese. Então as duas se olham e ocorre uma atração. A partir daí, tudo acontece de maneira hesitante e devagar. A aproximação das mulheres é lenta, a intimidade vai ocorrendo num crescendo e é só em meados do filme que esse amor se concretiza de fato.

O momento em que Therese (Rooney Mara) e Carol (Cate Blanchet) se encontram na loja: é aí que tudo começa.

Aos poucos, as duas mulheres começam a se aproximar.

Cate Blanchet e sua 'Carol', elegante até de pijama!

As duas atrizes são excelentes, mas, a mim,
não convenceram como amantes.
Ao longo de todo o tempo, a aproximação e a relação das duas mulheres são retratadas com muita sutileza e elegância. Uma abordagem diametralmente oposta àquela adotada no tórrido e excelente 'Azul é a cor mais quente', filme do diretor Abdellatif Kechiche lançado há dois anos.

No entanto, e não sei se alguém mais compartilha de minha percepção, achei que falta química amorosa entre as duas protagonistas. Não senti eletricidade ali. Além disso, devo dizer que também achei o casal um tanto improvável. Uma tem mais de 40 anos, é rica, culta e traz atrás de si toda uma história de vida. Outra é cerca de 20 anos mais jovem, inexperiente e pertence a um nível social bem inferior, embora tenha aspirações culturais elevadas. Enfim, poderiam ser mãe e filha, com a diferença de que mães e filhas normalmente têm muito mais assuntos e experiências comuns para compartilhar. Porém, em se tratando de amor, temos de admitir que quase tudo é possível. Sobretudo na ficção.

O fato é que, independentemente de o casal convencer ou não, ambas as atrizes interpretam muito bem seus papéis, o roteiro é bom e o timing da narrativa é perfeito, sem falar do belo visual anos 50. Se você gosta de cinema, não deixe de assistir!

O figurino anos 50 de Cate Blanchet é impecável.

Em tempo: o diretor Todd Haynes realizou o belíssimo e inesquecível 'Longe do Paraíso', em 2002. Para quem não lembra, nesse filme Julianne Moore – outra diva – interpreta uma dona de casa também da década de 50 que descobre que seu marido, papel de Dennis Quaid, é homossexual. E também aqui, o diretor foi muito feliz na abordagem sensível da problemática dos personagens. 

Ficha técnica parcial

Direção: Todd Haynes
Elenco: Cate Blanchett, Rooney Mara, Sarah Paulson, Kyle Chandler 
Produção: EUA e Reino Unido – 2015

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