domingo, 29 de outubro de 2017

Tudo vale a pena se a alma está em Viena.

Muitos brasileiros que viajam à Europa retornam com um misto de sentimentos, sobretudo quando visitam algum país mais desenvolvido que a média do continente. Por um lado, ficam felizes por terem tido a oportunidade de apreciar uma bela civilização, o que inclui respeito às pessoas, à história, à arte e à natureza. Por outro, vivenciam uma espécie de choque cultural e se deprimem ao comparar essas realidades civilizadas com aquela que encontram no Brasil: corrupção, violência, falta de educação, enfim - atraso material e, principalmente, cultural e moral. Por essa razão, sempre opto por reter na memória aquilo que é bom e faz bem. É assim que procuro manter, em minha mente e espírito, as melhores lembranças de minhas viagens. Estive há pouco na Áustria para realizar uma pesquisa em museus e tive a oportunidade de conhecer Viena e alguns lugarejos às margens do Danúbio. Aproveitei também para dar um pulo em Bratislava, que fica pertinho. Vou compartilhar um pouco dessas lembranças com você.

Ruas e avenidas limpas, bem planejadas e construídas com material de alta qualidade. Assim é Viena! - Foto: Selma

Retrato de Viena no final do verão: o Volksgarten ou "Parque do Povo"com jardins bem cuidados e muitas flores.
Foto: Simone Catto
 
Volksgarten - Foto: Simone Catto

O compositor Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), um dos maiores da Áustria, recebeu uma bela homenagem no Volksgarten - Foto: Selma

Viena não é dos destinos internacionais mais procurados pelos brasileiros e, talvez, nem mesmo pelos próprios europeus ou asiáticos. Devo dizer que acho isso bom, porque ela não é invadida pelas hordas de turistas que vemos em Paris ou Roma, por exemplo. Assim que cheguei, constatei que a cidade é a quintessência da civilização. Com uma infinidade de praças e parques, ruas limpas e impecáveis, belas construções ao estilo Art Nouveau germânico, o Jugendstil, além de museus variados e uma população culta e educada, Viena é extremamente acolhedora para o turista. Eu, que sou de São Paulo e topo diariamente com ruas lotadas, poluição, barulho e, vira e mexe, com gente que ainda não percebeu que a Idade da Pedra já acabou há algum tempo, tive um impacto altamente positivo e agradável ao chegar lá. Se por um lado eu já esperava encontrar toda essa beleza e organização, me surpreendi ao verificar que os vienenses são ainda mais civilizados do que eu imaginava.

Marie-Theresien-Platz, a enorme praça ajardinada que fica no centro do quarteirão dos museus.
Foto: Simone Catto

Belos exemplos da arquitetura vienense - Foto: Simone Catto

Se você já visitou Viena, ótimo! Fico feliz que também tenha tido a oportunidade de curtir a cidade. Mas se ainda não esteve por lá, vale a pena pensar no assunto. Para começar, não há como não se admirar com os parques e jardins que tanto contribuem para a qualidade de vida dos habitantes da cidade. A esse respeito, vale mencionar um estudo da consultoria internacional Mercer, de 2015, que classificou Viena em primeiro lugar no quesito qualidade de vida, pela sétima vez consecutiva, em relação a outras 230 cidades do mundo. A título de comparação, basta dizer que São Paulo amargou um 121º lugar. Sim, é de chorar pedra.

O curioso é que Viena tem mais de 1,6 milhão de habitantes, mas não se vê toda essa gente na rua. Imagino que a distribuição populacional seja equilibrada pelos bairros, possivelmente porque todas as regiões da cidade têm um bom planejamento urbano que inclui muitas áreas verdes, excelente infraestrutura de transporte e serviços de qualidade aos moradores.

O Burggarten, parque muito frequentado pelos vienenses, não aceita a entrada de cães - Foto: Simone Catto

No Burggarten e nos outros parques de Viena, as pessoas podem
se sentar para conversar ou ler um livro sem ser incomodadas.
Foto: Simone Catto

O sossego do Burggarten - Foto: Simone Catto

Burggarten com estátua do imperador Franz Joseph (1830-1916), marido da imperatriz Sissi - Foto: Simone Catto

Não há um só bairro na cidade que não tenha um parque ou vários jardins. E os vienenses sabem aproveitá-los porque sabem viver. Em Viena não há estresse - pelo menos, não o tipo de estresse com o qual estamos tristemente habituados por aqui. Lá as pessoas não correm enlouquecidas, não são escravas do trabalho. Não precisam matar um leão - ou um zoológico inteiro - por dia para colocar comida no prato da família ou pagar as contas no fim do mês. Os vienenses têm tempo e condição para ir aos parques para caminhar, correr, relaxar depois do expediente, levar as crianças para brincar. O parque Prater, por exemplo, é o maior da cidade, com 6 milhões de metros quadrados. Sua avenida principal cobre, em linha reta, mais de 4 km. Ele tem aparelhos de ginástica ao ar livre, campo de futebol, quadras poliesportivas e de tênis, passeios a cavalo e muitas outras instalações para as pessoas praticarem esportes respirando ar puro.

O imenso parque Prater tem várias placas alertando os pedestres sobre o trânsito de cavalos - Foto: Simone Catto

Um recanto de paz no parque Prater, verdadeiro oásis vienense - Foto: Simone Catto

Deve ser muito bom ler um livro aí! Pena que não tive tempo para isso... - Foto: Simone Catto

O compositor Carl Michael Ziehrer (1843-1922), um dos maiores rivais da família Strauss, também recebeu uma justa homenagem no Prater - Foto: Selma

O Prater também é conhecido por abrigar o parque de diversões mais antigo do mundo. A roda-gigante, símbolo de Viena, foi construída em 1897 para comemorar o cinquentenário da ascensão do imperador Franz Joseph ao trono e tem mais de 60 metros de altura. Já foi ultrapassada em suas dimensões por outras rodas-gigantes mais modernas, como a de Paris, mas vale como diversão vintage.

A roda-gigante do Prater - Foto: Selma

O transporte público em Viena é extremamente prático e eficiente. Há bilhetes com períodos de validade diferentes e você pode usar o mesmo bilhete para o ônibus, metrô ou bonde. Muitos vienenses também optam pela bicicleta. Vale ressaltar que Viena pode se dar ao luxo de ter ciclovias porque, ao contrário de São Paulo, foi muito bem planejada e seus habitantes são civilizados. Ciclistas não atropelam pedestres e carros não atropelam ciclistas. É "outro patamar", como diz uma amiga. Trânsito não se vê nas ruas. Congestionamentos são inexistentes. O turista ainda pode passear em charretes que remetem aos tempos da imperatriz Elizabeth da Áustria, a famosa Sissi, conduzidas por motoristas com trajes de época e garbosos cavalinhos. Se preferir, também pode fazer um tour num simpático veículo que batizei de "ciclotáxi", uma espécie de triciclo com pedal e capota, conduzido por um motorista. Pois é. Isso é Primeiro Mundo.

A charrete, como no tempo do império austro-húngaro - Foto: Selma
  
Da mesa onde tomava um vinho avistei aquilo que batizei de "ciclotáxi", transportando
turistas para lá e para cá - Foto: Selma

Outra coisa que chama atenção na cidade é a quantidade de galerias de arte e lojas de antiguidades. O mais fantástico é que muitas dessas lojas são segmentadas, isto é, especializadas em determinados tipos de produtos, como livros raros, aquarelas, moedas, porcelanas... e por aí vai. Daí conclui-se que, se essas lojas existem, é porque também existe público para elas, concorda? Vienenses, e austríacos em geral, têm cultura suficiente e poder aquisitivo para consumir obras de arte e belos objetos de decoração. É mesmo um mundo que está a anos-luz do Brasil. Daqui a alguns milênios, quem sabe, a gente chega lá.

Esse antiquário é especializado em livros antigos e existe há quase cem anos - Foto: Simone Catto

Fiquei encantada com essas bucólicas pinturas e aquarelas! - Foto: Simone Catto

E o que dizer dessa miniárvore com ovinhos Fabergé? A grande
vantagem é que ela serve para decorar a casa no Natal e na
Páscoa, hehe... - Foto: Simone Catto

Um dos índices que mostram o grau de civilidade de um país é o respeito por sua memória e história, aí incluídas as pessoas que ajudaram a escrever essa história. É por isso que, em Viena, sempre encontramos monumentos ou esculturas que homenageiam grandes personalidades do mundo germânico – sejam elas oriundas das artes, da política, da música ou da literatura. Nem é preciso dizer que esses monumentos estão sempre limpos, bem preservados, sem a menor sombra de pichação ou vandalismo.

Schillerplatz, a praça batizada em homenagem a Friedrich Schiller (1759-1805), médico, historiador, filósofo e um dos maiores poetas alemães - Foto: Simone Catto

Schiller, o poeta homenageado - Foto: Selma

Goethe (1749-1832), um dos maiores escritores de língua germânica,
também é reconhecido em Viena - Foto: Simone Catto

Naturalmente, uma só postagem não é suficiente para relatar todas as coisas boas que vi e vivenciei em Viena, mas isto é só para começar. Tenho estado bastante atarefada, mas prometo me organizar para ter tempo para publicar, em breve, mais posts sobre essa linda cidade. Até mais! Ou, como diriam os vienenses... Bis später!